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Entenda os motivos para a alta nos custos do papel tissue

A produção de papel tissue envolve muitos fatores e também diversos tipos de insumo – e todos eles vêm sofrendo com reajustes

Já é de conhecimento do mercado que os produtores brasileiros de papel tissue estão em alerta devido à alta de custos dos insumos usados na fabricação de seus produtos. Algumas empresas já começaram a praticar novos preços, como a Damapel e a Santher.

Demostrando que a alta dos preços vem ocorrendo também internacionalmente, a portuguesa Navigator também anunciou um reajuste nos valores de seus produtos em virtude do aumento “generalizado e significativo” dos preços em muitos dos seus fatores de custo.

A produção de papel tissue envolve muitos fatores e também diversos tipos de insumos – e todos eles vêm sofrendo com reajustes. Desde matérias-primas para a fabricação do papel, como celulose e aparas, até a maculatura, usada na produção dos tubetes, o plástico para as embalagens e os químicos, aplicados em diversas etapas, os aumentos vêm atingindo toda a cadeia e prejudicando as empresas de tissue, que não têm conseguido repassar esses custos ao mercado. Entenda, abaixo, a alta de cada um desses insumos e de que forma ela vem afetando o setor como um todo:

CELULOSE

Em um relatório, a Ágora Investimentos afirmou que os estoques de celulose devem ficar apertados pelo menos até o terceiro trimestre de 2021, mantendo os preços da fibra em alta. Com isso, os produtores de tissue continuarão sofrendo com o repasse mais lento.

De acordo com Sérgio Canela, gerente geral de vendas de celulose para América Latina da Klabin, os aumentos de preços nos diferentes tipos de celulose estão associados a uma combinação de fatores. Entre eles, estão a redução de oferta de celulose devido às paradas anuais de manutenção concentradas nos últimos meses – em decorrência da pandemia –, atrasos nos retornos dessas paradas, além da redução de produção em algumas regiões da América do Norte devido a fatores climáticos e das paradas temporárias e permanentes por parte de alguns fabricantes graças aos custos elevados.

“Houve, ainda, a redução na oferta de aparas pós-covid pela menor atividade em alguns segmentos de papel. Adicionalmente, a partir de janeiro de 2021, o governo chinês estendeu a proibição da importação de aparas para todos os tipos, provocando aumento na demanda por fibra virgem. Outro fator importante que ocorreu na China refere-se ao aumento da demanda no segmento de papéis de imprimir e escrever e embalagens, especialmente Ivory Board, um tipo de cartolina utilizada para segmento gráfico/escolar e Ivory Fold Board, usado para embalagens finas. Esses cartões também utilizavam aparas e passaram a substituí-las por celulose virgem. As autoridades chinesas também vêm pressionando o mercado para a substituição de embalagens plásticas descartáveis de uso único. Neste ano, é comemorado o centenário do Partido Comunista na China, o qual vem produzindo muita propaganda em mídia impressa, alavancando também a demanda por celulose”, pontua.

E para completar o cenário, Canela aponta que “armadores reduziram linhas marítimas não lucrativas no segundo semestre de 2020, efeito da redução de oferta de cargas durante a pandemia, gerando redução na oferta de containers e forte elevação nos fretes marítimos” – tudo isso impactou fortemente no equilíbrio entre oferta e demanda de celulose neste primeiro semestre.

Além de tudo isso, o preço da commodity também está suscetível às variações cambiais, sobretudo, ao valor do dólar, a moeda em que ela é negociada. Portanto, conforme ocorrem essas variações, sua precificação sofre alterações no Brasil – em caso de valorização da moeda, como no atual contexto, o preço da fibra sobe.

APARAS

Dentro do segmento de tissue, utiliza-se muito aparas vindas de papéis para imprimir e escrever e, de acordo com o presidente da Anap (Associação Nacional dos Aparistas), Pedro Vilas Boas, “2021 promete ser um ano difícil para o abastecimento das fábricas de papel tissue e com relação às aparas brancas”.

Um dos motivos para isso é o fato de o volume de papéis para imprimir e escrever, que podem ser utilizados como aparas, vir apresentando uma forte tendência de queda, com o papel perdendo mercado para os meios eletrônicos de comunicação.

“Em 2020, foram colocados no mercado brasileiro, 1,4 milhão de toneladas de papel branco, o que representou uma queda de 24,8% em relação ao ano anterior e, se considerarmos o ano de 2010 como base, a disponibilidade de papel no mercado para recuperação na forma de aparas, caiu 52,3%”, comenta Vilas Boas.

Outra preocupação é a alta no valor que a matéria-prima virgem vem registrando na Europa. Segundo o presidente da ANAP, após um valor estável em 2020, por volta de US$ 680 a tonelada, a celulose está encerrando o mês de março com valores próximos de US$ 850 a tonelada, o que significa um incremento, em dólar, de 25% em apenas três meses.

Isso é um problema, pois de uma forma geral os fabricantes de tissue têm resolvido a questão da falta de aparas ao aumentar o consumo de celulose. “Como se sabe, o valor praticado na Europa é o mesmo utilizado no Brasil, mas, a conversão para o real encarece ainda mais o produto já que nossa moeda vem sofrendo forte desvalorização e, se o fabricante de tissue procurar as aparas brancas como alternativa, não vai encontrá-la e, seguindo a regra de oferta e demanda, os preços também vão subir fortemente” diz ele.

Os fabricantes de produtos que utilizam aparas de embalagens de papel e papelão também sentiram com a falta de oferta no mercado. Em 2020, mesmo com o auge dos recordes de encomendas por delivery – que fez com que com que caixas e sacolas em diferentes tamanhos, formatos e materiais se tornassem um produto de primeira necessidade para diversos setores –, o mercado de celulose, papel e papelão se deparou com essa falta de insumos para a fabricação e, desde então, iniciou-se uma corrida por materiais que resultou no aumento dos preços.

O segmento foi amplamente afetado com a elevação do custo das aparas e com o impacto do câmbio sobre as matérias-primas, além da redução da reciclagem, em virtude das mudanças no trabalho das cooperativas, catadores de papel e coleta seletiva.

MACULATURA

Principalmente devido ao crescimento do setor de tissue, o mercado de papel cartão maculatura está muito aquecido e apresentando alta demanda. Por estar com a produção altamente ativa, consome cada vez mais essa matéria-prima, usada na fabricação de tubetes.

Esse tipo de papel é feito com aparas marrons, que estão cada vez mais escassas, já que o material vem, principalmente, de caixas de papelão ondulado dos produtos vendidos no comércio em geral e lojas de shoppings centers. Com o isolamento social e as lojas fechadas, esse material deixou de ser recolhido, o que gerou escassez no mercado.

“O compromisso da INCAPE sempre foi manter a qualidade e estabilidade dos produtos oferecidos às linhas de conversão, entretanto, em tempos de escassez de material, a dificuldade não se detém somente em buscar o insumo a um preço coerente, mas sim em encontrar o insumo de aparas com os mesmos parâmetros de qualidade. Está pagando-se caro por um insumo ruim, contaminado. No CPV (custo do produto vendido), o impacto gerado pelos aumentos das aparas marrons entre o mês de março/20 até o momento (YTD) março/21, foi de 185%, descontando as perdas por conta do detrimento de qualidade do material”, observou Thiago Karam, diretor da INCAPE.

Além da falta de aparas em decorrência da pandemia do coronavírus e da alta do dólar, muitas empresas estão exportando o papel, ao invés de atender ao mercado interno. Com a soma desses fatores, a maculatura está cada vez mais escassa e com preço cada vez mais elevado.

“Sabendo da responsabilidade que possuímos com nossos clientes, abrimos frentes de importação de aparas no Panamá, EUA e Guatemala. Nos expondo às variações cambiais, não deixamos em nenhum momento durante a pandemia de atender nossos atuais clientes com o mesmo padrão de qualidade”, finalizou Thiago.

QUÍMICOS

Os químicos utilizados na indústria de tissue também sofreram reajustes. A Buckman, empresa global privada especializada em química inovadora e soluções inteligentes, recentemente anunciou aumentos de preços globais de 8 a 25% para todas as ofertas de produtos.

A alta nos preços desses insumos se dá, principalmente, aos aumentos recentes no preço das matérias-primas, além do aumento dos custos de energia, transporte, mão de obra e regulatórios. Esses fatores geraram uma pressão que não pôde ser totalmente absorvida pelas empresas, que acabaram reajustando seus valores.

EMBALAGENS PLÁSTICAS

Nas embalagens plásticas, a alta de preços se deu tanto pelo custo da resina plástica, que é atrelado ao dólar e à cotação internacional do petróleo, como pelas paradas da indústria de embalagens no momento de distanciamento social mais difícil da pandemia.

Em um depoimento ao Portal Tissue Online, João Carlos Nosé Leães, Diretor de Compras Global da Valfilm comentou: “O mercado é soberano, e não foi diferente com o mercado de resinas plásticas desde a retomada em “V” da atividade econômica global. Se por um lado o novo coronavírus, que já de largada no início da pandemia restringiu a produção de resina e ‘forçou’ a baixa dos estoques petroquímicos, por outro, fez aumentar consideravelmente o consumo por produtos de algumas áreas como a de saúde e higiene & limpeza. Como consequência e resultado da relação entre oferta e demanda, os preços dispararam”.

De acordo com o diretor, esse efeito não foi exclusivo ao mercado brasileiro, mas foi visível mundialmente. “Aqui, ainda existe uma parte do mercado de resina que é importado (cerca de 35%), então tivemos também o impacto da taxa cambial, que viu o Real desvalorizar de forma perene ao longo de 2020 e início de 2021, o que impacta diretamente nos preços das resinas”.

Outros fatores que também contribuíram para a restrição de oferta foram as paradas programadas de manutenção de alguns produtores no primeiro trimestre de 2021, e fatores externos relevantes como as paradas de plantas nos EUA devido aos furacões e a recente nevasca no Texas, sendo a principal origem da resina importada e que representa cerca de 70% de todo o volume que entra no país.

 

ONDE ESTÁ O PROBLEMA?

O problema é que a indústria não tem conseguido repassar todas essas altas de custos ao varejo, e esse cenário não é favorável ao mercado de tissue. O cenário instável da indústria e o aumento exponencial dos preços afetou toda a cadeia, principalmente os produtos com maior demanda e menor disponibilidade de mercado.

“Os fabricantes de papel tissue no Brasil estão sofrendo cada vez mais com a alta do dólar e do preço da celulose, que têm elevado os custos de produção, e não conseguem repassar esses reajustes ao mercado para manter as suas margens saudáveis”, analisa o fundador e CEO do Portal Tissue Online, Felipe Quintino.

PROJEÇÕES PARA O FUTURO

Na visão de Pedro Vilas Boas, “é certo que os custos com as matérias-primas vão subir este ano”. “E, se a isso, somarmos os problemas com a pandemia da Covid-19, com novas medidas de restrição de funcionamento do comércio, diminuição da renda das famílias brasileiras por conta do fim ou redução dos programas de ajuda emergencial, aumento dos combustíveis etc., podemos, na verdade, dizer que o ano será dificílimo”.

Sérgio Canela completa que o “cenário deve ser de maior estabilidade no segundo semestre a partir da entrada de novas capacidades de produção de celulose, o que ainda não deverá ser suficiente para fazer os preços caírem, mas provavelmente estabilizá-los até o final deste ano”.

A visão do executivo endossa a da Ágora Investimentos, que afirma que o valor de mercado da celulose deve continuar em patamares elevados ao longo do ano, recuando em 2022 com a entrada em operação de novas capacidades.

Se essas previsões se concretizarem e os preços caírem em 2022, esse cenário beneficiará os fabricantes de tissue, que, com menores custos e margens mais saudáveis, podem repassar os preços ao varejo sem prejuízo, o que beneficia toda a cadeia produtiva – dos fornecedores aos produtores –, oferecendo também a vantagem do preço mais competitivo ao consumidor final.

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