“Mercado de tissue teve um crescimento muito expressivo”, diz presidente da Suzano
Em entrevista, Walter Schalka discorreu sobre os mais variados assuntos: de meio-ambiente à economia, de educação à política, de gestão ao mercado de papel e celulose no mundo
Walter Schalka, presidente da Suzano, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, concedeu uma entrevista ao Portal NeoFeed, em que discorreu sobre os mais variados assuntos: de meio-ambiente à economia, de gestão ao mercado de papel e celulose no mundo, entre outros.
No comando da empresa, uma gigante, resultado da união da Suzano com a Fibria, que anotou uma receita de R$ 18,9 bilhões em 2019, e tem uma capacidade de produção de 10,9 milhões de toneladas de celulose e 1,4 milhão de toneladas de papel, ele teme que a crise leve o Brasil para uma depressão econômica. Confira os principais trechos:
O que mudou no mercado de celulose depois da pandemia?
O mercado de celulose tem diversas utilizações e queremos expandir para outras áreas em que não vínhamos atuando. Mas os principais mercados em que a celulose atende hoje no mundo são os mercados de tissue (usado na fabricação de papéis higiênico, lenço de papel e papel toalha), de printing and writing e de papéis decorativos. E cada um está tendo um comportamento muito diferente na pré e na pós-pandemia.
Como estão se comportando?
O mercado de tissue teve um crescimento muito expressivo num primeiro momento, mas agora volta para um patamar ligeiramente acima do passado. Estimo que vamos ter um crescimento estrutural de 3% na demanda de tissue global por questões sanitárias. O mercado de printing and writing vai ter uma queda e não conseguimos ter visibilidade ainda se é só uma queda conjuntural ou se é estrutural. O aumento do home office, a redução das pessoas nos escritórios, a redução do turismo também leva a uma redução de consumo. O mercado de livros e cadernos volta depois da pandemia, mas houve uma queda. No mercado europeu, a queda da demanda foi de 37% em maio deste ano em relação a maio do ano passado.
A Suzano é uma empresa que exporta mais de 90% da produção. Em quais mercados a empresa sentiu mais?
A China já voltou ao normal e representa 50% do volume. A Europa caiu e vem num processo de recuperação. Nos Estados Unidos, ainda está no pico de consumo na parte de tissue. O conjunto da obra é que os nossos volumes não estão se alterando de forma significativa. Tivemos um bom primeiro trimestre, batemos recorde de venda histórico em celulose e no segundo trimestre continuamos em ritmo normal de faturamento. Já no mercado de papel interno teve uma queda expressiva e o que estamos fazendo é reduzindo a produção, deixando de produzir papel e secando celulose e exportando mais celulose. O mercado de bens e consumo, que ainda é muito pequeno para nós, está operando a plena capacidade.
Qual é a sua análise sobre a economia global?
Vamos ter uma dispersão bastante grande em diversos setores na economia. Acho que teremos uma retração global expressiva. Acho que nem recessão será, será uma depressão e mais acelerada no Brasil. Alguns setores serão muito afetados e outros até serão beneficiados. Setor de alimentos, por exemplo, está crescendo. No nosso caso, o mercado de tissue é uma commodity de consumo, esse mercado não imagino sendo afetado e, por questões sanitárias, esse consumo tende a aumentar mais um pouquinho. Os setores de serviços, de vestuário, automobilístico serão muito afetados.
A Suzano já sofreu por conta da questão ambiental?
É o oposto. Por sermos referência, as pessoas sabem que precisam apoiar não só a Suzano, mas todas as empresas que são referência na questão ambiental. Temos sido procurados por investidores e elogiados pelos clientes pelas ações que a Suzano tem tomado. Até agora não tivemos nenhum lado negativo da história. Mas temos de olhar não só pela Suzano e sim pelo Brasil.
Quais são as ações da Suzano nesse sentido?
No começo do ano, anunciamos três grandes metas muito ambiciosas para a próxima década. A primeira grande meta é retirar 10 milhões de toneladas de plástico repondo por celulose. Estamos abrindo o espectro de atuação da Suzano para entrar em mercados como o têxtil. O têxtil é um mercado de fibras sintéticas através de derivados de petróleo, estamos substituindo por fibras naturais através da celulose. A segunda meta é de retirar 40 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera. Só para colocar em perspectiva, muitas empresas anunciam planos para ser carbono zero daqui 20 anos, 30 anos. A Suzano já é carbono negativo e quer mais. O terceiro ponto é que queremos retirar 200 mil pessoas da pobreza. Estamos trabalhando iniciativas tanto de renda como de educação nas comunidades onde atuamos para retirar essas pessoas da pobreza. Entendemos que esse é o nosso papel perante a sociedade.
A Suzano já conseguiu absorver a Fibria e já se pode dizer que é uma única empresa?
Quando fizemos a fusão com a Fibria, a primeira coisa que fizemos foi trabalhar com a questão da cultura. Normalmente, uma empresa se sobrepõe a cultura da outra e não quisemos isso, nem a cultura A e nem a B. Queríamos uma terceira cultura. Então sentamos e escrevemos qual seria a jornada cultural que gostaríamos de ter. Eram direcionadores baseados em três pilares importantes. O primeiro é “gente que inspira e transforma”, o segundo é “criar e compartilhar valor com todas as partes da sociedade” e o terceiro é “só é bom para nós se for bom para todo mundo”. Tenho orgulho em falar que evoluiu muito essa jornada cultural de 14 de janeiro do ano passado até hoje e a pandemia ajudou muito a acelerar esse processo, a colocar todo mundo junto nesse processo de fazer as coisas acontecerem. Mas cultura é algo que não termina nunca.
E a questão das sinergias, a companhia conseguiu atingir o que havia prometido?
Falamos que entregaríamos sinergias entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões ao ano de economia. Estamos levando esse número para cima, entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão de economia. Nesse ano, vamos atingir 90% disso. Além disso, tem um terceiro ponto, que era unificar processos e sistemas, o que foi feito em janeiro desse ano. Nos três pilares, a empresa foi bastante bem nesse ano. Mas sempre digo que uma coisa é filme e uma coisa é foto. O filme da Suzano é muito bom e continua sendo bom na evolução, mas a foto não é. Se eu me sentar e começar a fazer o jogo dos sete erros, vou achar vários erros na Suzano. Tenho a tranquilidade e humildade de dizer que não dá para falar que a empresa é perfeita e nem que será perfeita. Ela só tem que ser melhor a cada dia.
Hoje, as empresas têm cada vez mais buscado a inovação e a sustentabilidade. A Suzano tem levado à frente os projetos alternativos como os de bioóleo, lignina, entre outros?
Temos um projeto de lignina, outro de tecido através da celulose para o mercado têxtil, o bioóleo também está em discussão. Tem um mundo muito grande de possibilidades e alternativas com a utilização da celulose. Esses projetos de outras aplicações da celulose ou da lignina devem representar 10% dos negócios da companhia em até 5 anos.
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Muita gente tem falado que o mundo vai mudar depois do coronavírus. Você acha que vai mudar ou vai passar, as pessoas vão esquecer e vida que segue?
Vou ser transparente. Não sei responder essa pergunta. Vou dar pequenos pitacos do que acredito que pode acontecer. Vai mudar, sim, algumas das relações. Algumas indústrias serão mais afetadas no curto prazo, como setor de serviços e turismo. Mas acho que a questão humana foi pouco alterada. Teve uma primeira sensibilidade na questão da saúde e acho que, a partir do momento em que tivermos a vacina ou o protocolo de tratamento adequado, as pessoas voltarão a ter uma vida diferenciada. Vai implicar em algumas questões naturais em algumas indústrias? Vai. Vai crescer o home office, mas as pessoas estarão menos interessadas em ter veículos próprios, estarão mais interessadas de ter atividades ao ar livre. É muito difícil estabelecer o que será a vida humana depois disso. Vejo uma alteração de geopolítica global muito relevante que vai acontecer a partir daí.