Desenvolvimento pessoal é fundamental em períodos de crise, defende psicóloga e coach
Para Jackeline Leal, muitos ainda não se deram conta de que a sociedade enfrenta hoje um problema mental e, para tratar essa situação, o melhor caminho é o desenvolvimento pessoal
Jackeline Leal é psicóloga, coach executiva e treinadora organizacional, com experiência em desenvolvimento de pessoas e organizações há quase 15 anos. Com passagens por empresas como a Andritz, Jackeline é responsável, desde 2017, pela coluna Carreira e Oportunidades da Revista O Papel, da ABTCP.
No programa Talk Tissue com Felipe Quintino, ela avaliou de que forma é possível atravessas a crise em decorrência da pandemia do coronavírus com menos danos. Em sua visão, muitos ainda não se deram conta de que a sociedade enfrenta um problema mental. “A gente não enxerga justamente porque isso é um tabu, porque a nossa sociedade não fala sobre problemas mentais de forma leve, livre, a gente acaba entendendo que quem tem alguma questão no âmbito mental tem um problema de saúde, é uma pessoa doente, a gente costuma pegar esses assuntos e esconder debaixo do tapete e aí nem mesmo as famílias costumam falar sobre esses problemas. Não é à toa que o índice de suicídio só aumenta e a gente não se dá conta, porque não podemos divulgar em nenhum meio. Uma coisa que é importante é que ninguém vai adoecer do dia para a noite. Começou a pandemia e agora está todo mundo doente, todo mundo ansioso, a partir da pandemia? Isso é um mito, as pessoas já tinham problemas psicológicos antes e aí, com a pandemia, a coisa ficou maior”, explica.
Em sua opinião, isso ocorre porque a quarentena inspirou um grande processo de mudança. “Passamos para descoberta de algo novo e não sabemos nem exatamente como lidar com isso, então, no momento em que ficamos sabendo que ia ter a quarentena, em nós, começaram a surgir milhões de emoções que não sabemos exatamente como lidar, então aquelas pessoas que já vinham como uma determinada ansiedade por algum motivo, no momento que descobriram que iriam ficar encarceradas em casa, isso explodiu”, aponta.
Para tratar essa situação, ela defende que o melhor caminho é o desenvolvimento pessoal. “Que é o do autoconhecimento, que é a tecla que bato com maior insistência na minha carreira. Eu acredito muito que as pessoas precisam muito se conhecer mais, elas precisam olhar para dentro, precisam compreender por que elas agem do jeito que agem, por que sentem o que sentem. Todos nós temos emoções, na verdade, as emoções vêm primeiro do que a razão, a gente sente uma emoção e depois o nosso cérebro racionaliza o que está acontecendo. Se o lance é olhar mais para dentro, como é que faço então em um momento de crise? Primeiro ponto: identificar que estamos em um momento de crise”, pondera.
Segundo a profissional, é preciso identificar até que ponto essas emoções são normais ou patológicas. “Se eu identifico que estou ansioso ou em um estado mais depressivo, ou nessa fase dentro da curva, isso está normal, não é patológico, é a vivência do momento, mas se vejo que estou há muito tempo em uma determinada fase e não consigo sair dela por nada, então, estou com problema, com uma ansiedade, depressão patológica e isso precisa ser somado a condições pré-existentes”, diz.
Diante desse cenário, com funcionários em home office e vivenciando todas as emoções provocadas pela crise, Jackeline defende que o papel do RH (Recursos Humanos) nas empresas é ainda mais desafiador. “Tenho muitos colegas de RH que passaram por desligamento em massa, colegas que precisaram fornecer informações para esses desligamentos, e ainda fazer os desligamentos. Então, eu acho que dar essa notícia para as pessoas nesse momento não é fácil, primeiro porque mexe com a gente, nós estamos no mesmo oceano, eu sei que é doloroso, eu penso que é papel do RH estabelecer uma comunicação clara nesse momento, tanto do colaborador que está lá na base, quanto do CEO. O papel do RH é estreitar isso, é entender o que está acontecendo nas duas pontas e ser o facilitador disso, fazer com que esses dois lados se encontrem”, defende.
Diante do trabalho remoto, o profissional dificilmente conseguirá manter exatamente a mesma produtividade de antes, por isso, é preciso estabelecer uma rotina. “A gente tem que começar quebrando o paradigma de que as pessoas vão para casa e vão entregar o que entregavam antes, isso não é verdade. As empresas agora estão dentro da casa da pessoa, dentro do lazer da pessoa e o mínimo de flexibilidade aí é importante, porque, do mesmo jeito que estou conversando com você, pode acontecer do meu cachorro latir, minha filha chorar. Entramos na casa das pessoas e isso é questão de privacidade, então precisamos mudar os padrões, tudo que tínhamos de referência não existe mais, esse é o tal do “novo normal”. É possível ser produtivo? É possível, mas precisamos quebrar a ideia que temos de tempo, então eu acho que tem que começar a flexibilizar o olhar, com coisas para a gente se manter produtivo. É importante cuidar de si mesmo no home office, porque ficar em casa trancado o dia inteiro sem sair em nenhum momento também não é bom para a cabeça da gente, é comum que percamos a paciência. É importante ter um tempo para se exercitar, ter uma boa alimentação, seguir uma rotina”, fala.
Jackeline também explicou de que forma o trabalhador pode tentar se destacar e manter seu trabalho em meio à crise. “Não foram poucas vezes que conheci pessoas que não tinham sequer um currículo, porque trabalharam em vários lugares por indicação e agora se viram desempregados e sem currículo para entregar. A gente já teve outras vezes o índice de desemprego alto, aí eu percebo um aumento até mesmo do empreendedorismo e outro ponto é cuidar da carreira, e isso precisa ser feito de forma constante. Tem o ponto que é técnico – todo mundo precisa estudar –, e tem a competência comportamental – desenvolvimento de inteligência emocional, habilidade para tomar decisão, gerenciar conflito, liderar equipe, trabalhar em equipe… São as coisas que não conseguimos moldar tão facilmente, são coisas que vamos aprender com o tempo, quanto mais tarde fazer isso, mais difícil fica”, afirma.
Uma das principais ferramentas para isso é desenvolver seu marketing pessoal. “Nesse momento, o marketing tem sido muito importante para a construção de uma imagem da gente. Além de construir essa imagem, é preciso saber apresentar essa imagem – por que não adianta você saber muito, ter muito resultado se na hora que te perguntarem você não souber vender seu peixe. Quando falo de trabalhar esse marketing pessoal, falo de conseguir trabalhar competências relacionais, saber conversar, se comunicar, mostrar seu trabalho, mostrar de forma bem objetiva os dados. Essas coisas são competências esperadas de uma pessoa que tem perfil de liderança”, encerra.
Confira na íntegra o Talk Tissue com Jackeline Leal, psicóloga, coach executiva e treinadora organizacional:
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