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Venezuela: Papel higiênico volta a mercados em Caracas, mas ainda há escassez de outros produtos

Clientes fazem fila para comprar papel higiênico
Clientes fazem fila para comprar papel higiênico

Ao se aproximar da prateleira da farmácia, Richard Rodríguez não encontra o que procura. “Não tem shampoo, que ‘arrechera’”, diz o venezuelano, utilizando a gíria local para “raiva” após se deter alguns segundos diante de condicionadores para cabelo. Não era o primeiro comércio a que o estudante de 23 anos se dirigia em busca do produto.

A cena ocorrida há algumas semanas não é incomum. Apesar da melhora no abastecimento de papel higiênico na cidade de Caracas, na maioria dos estabelecimentos não há shampoo. Desodorantes em aerossol e barra viraram raridade e somente uma marca de roll-on costuma ser vista. A variedade de aparelhos de barbear e sabonetes também tem mostrado instabilidade.

Trabalhadores de alguns comércios afirmam que produtos como shampoo chegam, mas se esgotam rapidamente. Por essa razão, há casos em que nem chegam a ser organizados nas prateleiras e são pegos pelos clientes diretamente de caixas ou pacotes colocados entre as mesmas. “Demora mais arrumá-los do que o tempo para que acabem”, explicou a trabalhadora de uma farmácia. Alguns comércios também vêm limitando a quantidade vendida por cliente de produtos que apresentam problemas de abastecimento. A medida fez com que um jovem de 21 anos que levava fraldas “para os sobrinhos” desse dinheiro a duas desconhecidas na fila de um supermercado para que comprassem os pacotes que conseguiu além da cota, já que somente eram vendidos dois por pessoa. “Fazia tempo que não chegava”, afirmou uma caixa do local.

Em meados de agosto, o Legislativo do país autorizou um crédito adicional de 784,1 milhões de bolívares (cerca de R$ 292 milhões) ao ministério de Comércio para a aquisição de produtos como pasta de dente, sabonete de banho, desodorante em barra e aerossol, máquinas de barbear e shampoo para distribuição em comércios públicos e privados do país. Nas últimas semanas, além de intensificar o combate ao contrabando, o governo de Nicolás Maduro também reajustou os preços finais máximos de fraldas, shampoo, desodorante, absorventes e aparelhos de barbear. A medida atende a uma das demandas empresariais para contornar a escassez, já que afirmam que o congelamento de preços faz com que os custos de produção superem os de venda.

Para Eduardo Garmendia, presidente da Conindustria (Confederação Venezuelana de Industriais), a importação para a elaboração de produtos a preços congelados deveria ser feita a taxas mais baixas de câmbio do que as de 12 (R$ 4,50) e 50 bolívares (R$ 18,75) por dólar com as quais os empresários podem trabalhar. No início do ano, o governo de Maduro restringiu a venda de dólares a 6,30 bolívares (R$ 2,36) somente a setores como o alimentar e medicinal.

O sistema cambial venezuelano é controlado pelo Estado desde 2003 e o setor empresarial calcula que o acesso a divisas em 2014 diminuiu 25% em relação ao ano passado, impedindo a compra de suficiente matéria-prima para a produção. Garmendia afirmou que houve soluções pontuais para algumas empresas, mas não setoriais.

Segundo a Fedecámaras (Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela), há rupturas na cadeia produtiva. “Quando se encontra um produto, não se encontra a embalagem. Quando se encontra a embalagem, não se encontra tinta para a etiqueta. Quando se encontra a tinta para a etiqueta, não se encontra a logística apropriada para poder despachar o produto”, disse o presidente da federação, Jorge Roig, em coletiva de imprensa no final de agosto.

Sobre a maior freqüência de papel higiênico nos comércios, Garmendia estima que houve destinação de mais recursos para o setor devido à crise que envolveu o produto, mas afirma que, recentemente, um produtor teve que pedir matéria prima emprestada a outro para manter a fábrica em operação.

Procurada pela reportagem, a Associação de Produtores de Papel e Papelão do país não quis dar declarações. Uma fonte confirmou que houve melhora na produção do item, o que permitiu a recuperação de sua presença nas prateleiras, mas esclareceu que os problemas continuam. Uma moradora do estado venezuelano de Lara, no entanto, disse somente encontrar papel higiênico em pequenos comércios, com preços acima da regulação, mas não em supermercados.

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sul21.com.br

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