Sustentabilidade nos produtos tissue: tendência ou modismo?
Por Dineo Silverio, CEO da ConnectTissue
A cultura e agenda ESG está em evidência e passou a ser primordial para as empresas estarem inseridas e conectadas a esse contexto, seja por uma convicção dos seus gestores, seja por uma adequação e exigência necessária vinda de clientes ou do mercado.
As boas práticas de gestão coorporativas e ações que possam causar menor impacto socioambiental estão sendo amplamente discutidas e trabalhadas por empresas de todos os tamanhos, desde grandes corporações até pequenas conversões de papel, e aquela que ainda não está com um olhar atento para essas pautas pode estar deixando de lado a análise não somente de riscos que não estão sendo previstos e dimensionados, mas também de tendências de consumo que podem estar surgindo no nosso setor e que não estão sendo visualizadas pela empresa.
Não é de hoje que sabemos que uma parcela do mercado consumidor vem se preocupando com um consumo mais sustentável e com maneiras de minimizar o impacto gerado pelo resíduo diário dentro das nossas casas. Prova disso é o crescimento contínuo de coletas seletivas nas cidades, que vêm aumentando a cada ano. Um levantamento feito sobre dados aponta para um aumento da coleta seletiva de resíduo domiciliar em 10% e de resíduos recicláveis em 25% no país durante e após a pandemia. Os dados foram obtidos com empesas que atuam nos serviços de limpeza urbana representando em torno de 70% do mercado brasileiro, em cidades de variados portes e regiões, e ponderados. A pesquisa foi feita com base nos resultados das empresas pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública).
Sendo assim, e não somente por esse fato, é visível o anseio do consumidor em buscar produtos com maior nível de sustentabilidade e de empresas engajadas nesse contexto. E logicamente a indústria de tissue deve se preocupar com essa tendência, pois não se trata de um modismo somente, já que cada vez mais as novas gerações tão preocupadas com a pauta ambiental estão se tornando economicamente ativas e ocupando uma maior fatia do mercado consumidor – tendência essa que só irá aumentar, até pelos públicos diversos que se engajam lentamente com essa pauta também.
Encontrar alternativas ecossustentáveis e desenvolver produtos tissue inovadores que possuem um menor impacto ambiental na sua produção e adicionalmente possam propiciar ao consumidor a oportunidade de usufruir de um produto que também possibilite ajudá-lo a reduzir sua pegada de carbono pessoal tem sido uma tendência cada vez mais visualizada em grandes players de papel sanitário mundiais, com ênfase na Europa, e alguns exemplos no Brasil e América Latina.
Um exemplo que podemos citar é a Renova, empresa portuguesa produtora de tissue, que lançou em 2020 uma toalha de cozinha totalmente reciclada, sem adição de químicos como corantes, cloro ou fragrâncias, além de possuir embalagem totalmente biodegradável. Em 2020, a companhia lançou a Linha Recycled, que utiliza papel 100% reciclado e certificado. O caminho da eliminação progressiva do plástico do portfólio da Renova começou em 2018, com a linha Paper Pack.
Outro exemplo é a WEPA, um dos maiores produtores europeus de tissue, que possui fabricas em vários países, e que em 2021 lançou sua marca de papel higiênico ecológico, o “Feel Good”. De acordo com a empresa, Feel Good é feito com totalmente papel reciclado de alta qualidade, incluindo aparas de papel de escritório, revistas e até catálogos de varejo, e está projetado para atender às necessidades do consumidor ambientalmente consciente de hoje, pois tem como característica principal não deixar de lado a maciez do papel. O produto também é embalado em papel reciclável.
No Brasil, também temos exemplos extremamente relevantes, onde empresas produtoras de tissue vem buscando desenvolver produtos que possuam características de sustentabilidade reais e possam oferecer vantagens ao consumidor preocupado com esse tema.
Recentemente, a Damapel lançou o produto papel higiênico “Fancy Planet”, um papel que também alia sustentabilidade à qualidade. Produzido com o uso de celulose proveniente de florestas sustentáveis, ele é totalmente livre de plástico e embalagem 100% de papel, e tem colagem das folhas feita à base de água, tubetes de matéria-prima reciclada, sendo a cola do tubete de amido de milho. Outro diferencial é que o produto é embarcado em caixas de papelão em vez de fardos plásticos.
A Suzano também lançou o produto “Mimmo Eco Pack”, com embalagem feita de papel produzido a partir de matéria-prima de fontes renováveis, em substituição ao plástico. A iniciativa está alinhada a um dos “Compromissos para Renovar a Vida” – um conjunto de metas de longo prazo da Suzano. Entre eles, está o objetivo de disponibilizar 10 milhões de toneladas de produtos de origem renovável que podem substituir plásticos e derivados do petróleo até 2030.
O case pioneiro dessa abordagem eco responsável no Brasil é da COPAPA, que, já em 2020, lançou o produto Carinho Eco Green, o primeiro papel higiênico do Brasil sustentável em todas as etapas do seu ciclo de vida. Desenvolvido com base nos princípios da economia circular, esse foi o primeiro produto do segmento tissue a receber o rótulo ecológico ABNT Ambiental, que certifica a sustentabilidade dos produtos nas fases de extração de recursos, fabricação, distribuição e descarte. Para o consumidor, as principais novidades do Carinho Eco Green estão na embalagem plástica e nos rolos, que são totalmente compostáveis: o plástico é feito de milho e o tubete com cola à base de fécula de mandioca, que viram adubo quando descartados junto a resíduos orgânicos em locais próprios para compostagem. A COPAPA foi além do produto em si, pois pratica reúso de água no processo produtivo e emite cerca de 25% menos de toneladas de carbono equivalente em seu processo de fabricação, em comparação à fabricação de um produto de qualidade similar. Além disso, todo carbono emitido na fabricação e na distribuição é neutralizado com plantio de árvores, realizado em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica.
Na América do Sul, a Softys, multinacional chilena e líder de mercado na América Latina, lançou em 2021 seu produto Elite Eco, um papel higiênico com empacotamento realizado com embalagem de papel biodegradável e reciclável.
Como vemos, temos vários exemplos em nosso segmento de desenvolvimento de produtos com preocupação ambiental visível ao nosso consumidor. Digo visível porque sabemos que o processo de produção de tissue já é um processo em que há uma atenção especial dos produtores ao assunto, com práticas ambientais positivas como circuitos fechados de uso de água, como processos de tratamento de água chegando a níveis extremos de qualidade final de efluentes, processos de recuperação de fibras, usos de caldeira a gás natural, uso de lenha proveniente de reflorestamento, coletas seletivas interna de papel, plástico, metais e vidros; enfim, já é uma pauta bem estabelecida dentro dos produtores de tissue em geral, até por uma questão de legislação ambiental. Talvez o ponto a se incrementar aqui seria um olhar específico aos fornecedores; atentar se estes estão se preocupando com essa pauta ESG e se os processos das empresas que formam a cadeia de suprimentos condizem com as práticas que estão sendo elaboradas dentro da própria organização, pois não pode haver discrepância nisso. Um olhar mais atencioso a isso, aos fornecedores de insumo, como, por exemplo, de adesivos e de maculatura para tubetes.
Como sabemos, a prática do ESG dentro de uma organização não é somente a busca por processos e produtos sustentáveis, voltados a preservação do meio ambiente. Esse é somente um dos pilares. A agenda é extensa, complexa e com possibilidades inúmeras de serem exploradas e trabalhadas internamente e nos stakeholders que integram o sistema da empresa, visando o social, o ambiental, as práticas de gestão e tudo que esses aspectos influenciam no cotidiano atual e do planejamento futuro de qualquer indústria voltada essas práticas.
Também é necessário atentar que, somente formular produtos que tenham uma pegada ecossustentável sem se preocupar com todas as vertentes do ESG dentro de sua organização é uma estratégia que não tem validade palpável de longo prazo, pois se torna algo que não condiz com os valores e práticas reais da empresa no dia a dia, o que a torna malvista pelos diversos membros do ecossistema da empresa, como funcionários, clientes, fornecedores e investidores.
Entretanto, aquela organização que se atentar de forma verdadeira com todos os fatores de ESG pertinentes a essa estratégia e, além disso, se dedicar com a formulação de produtos com esse viés sustentável, encontrará uma forma de externalizar essa preocupação da companhia gerando valor, satisfazer o seu consumidor que anseia estar conectado com essa realidade, e ser ainda mais respeitada dentro de todo o mercado que ela atua, gerando valor para si e para todos.
Sem dúvida, esse é um caminho sem volta.
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