Potencial cresce, mas setor de tissue tem desafios pela frente

As indústrias de celulose, papel, tissue e personal care foram tema do programa CNN Soft, exibido no dia 29 de maio. Com uma abordagem voltada para negócios, os apresentadores Phelipe Siani e Fernando Nakagawa desvendaram um cenário desconhecido pelo público geral e enterraram a teoria infundada de que o papel morre com o avanço do digital. Para surpresa de parte dos espectadores, o setor cresce e o tissue será um dos grandes responsáveis por impulsionar a ascensão do mercado nas próximas décadas.
Dados divulgados pela Fortune Business InsightsTM apontam que globalmente o setor de papel tissue atingiu US$ 76,52 bilhões em 2021, o que equivale a R$ 361,80 bilhões. Prevê-se que o valor aumente de US$ 80,99 bilhões em 2022 para US$ 124,74 bilhões em 2029. No Brasil, os números também confirmam as tendências de crescimento, com potencial para subir de R$ 9,08 bilhões, em 2021, para R$ 10,5 bilhões, em 2026. As projeções impressionam e – apesar de ambiciosas – estão alinhadas às tendências mundiais e à forte escalada que as áreas de saneamento básico e higiene terão no mundo pós-Covid. O potencial é gigantesco e quem conhece o mercado vê as infinitas avenidas de crescimento.
No cenário pré-pandemia, as expectativas já eram positivas. No entanto, ao voltarmos para o início da propagação do coronavírus, notamos um fenômeno que teve papel crucial na aceleração do processo. De um dia para o outro, acompanhamos o crescente aumento da demanda por produtos de personal care e tissue. Papel higiênico, lenços umedecidos e outros itens chegaram a ser estocados, fazendo com que a escassez refletisse diretamente na alta dos preços. Superada a fase mais crítica da pandemia, a conscientização da população global sobre a importância dos cuidados básicos de higiene deixa como legado um público ávido por acesso a produtos de tissue e personal care, principalmente em países mais pobres e populosos, como a Índia, e que tinham um consumo abaixo da média mundial.
Aqui no Brasil, o mercado de tissue está em franca ascensão. Ele foi o principal destaque do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no primeiro trimestre de 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). As vendas ex-factory do segmento cresceram 21% em comparação com o ano anterior, puxado pela categoria de papel higiênico.
O otimismo, no entanto, vem sendo desafiado por alguns fatores, entre os quais destacam-se a alta da inflação e o aumento dos custos das matérias-primas. O reajuste de preços reflete uma pressão inflacionária persistente, disseminada e inevitável. A economia setorial também é afetada pela instabilidade do cenário internacional, marcado por novos lockdowns na China e sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.
Soma-se a isso o fato de o poder de consumo dos brasileiros estar sendo corroído com a inflação crescente. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrado no período de janeiro a março de 2022, foi de 5,1% para os itens de cuidados pessoais, contra 3,2% no índice geral de preços. Os preços desses produtos estão em trajetória ascendente: em novembro de 2021, o IPCA era de 1,8% no acumulado de 12 meses. Em março de 2022, o índice aponta aumento de 7,8%.
A guerra nos países europeus também sugere um risco de escassez de celulose, o insumo mais usado no setor. Historicamente, a Rússia sempre foi uma importante fonte de madeira para a Europa, e esse comércio está completamente bloqueado desde a invasão da Ucrânia, levando a indústria a cogitar não conseguir atender toda a demanda global.
A escalada dos preços, não apenas da celulose, mas de todas as commodities – químicos, energia, petróleo, plásticos e tantas outras usadas – somada a dificuldades na cadeia logística, completa o cenário desafiador.
Ao absorver os custos mais altos para produção de tissue, os fabricantes estão diante de um impasse que tem estrangulado suas margens, já que os varejistas não permitem que parte desse aumento seja repassado. Mesmo grandes marcas já reportaram os impactos dessa política em seus balanços financeiros.
A pergunta que ainda está sem resposta é: até quando as indústrias conseguirão driblar esse cenário? É difícil prever, no entanto, sabemos que os primeiros a serem fortemente impactados são os pequenos e médios produtores. Na sequência, a viabilidade de grandes operações também estará em xeque.
A solução está no equilíbrio e na negociação: varejistas terão que absorver parte da alta para mantermos a indústria nacional de tissue e personal care em operação. Quem está deste lado da história sabe que é um momento crucial e que as decisões tomadas agora reverberarão no futuro. O potencial de mercado brasileiro é evidente; falta apenas o equilíbrio no jogo comercial e a sabedoria corporativa para que a situação seja superada.
Por aqui, nós seguimos acompanhando cada desdobramento desta história e na torcida por um desfecho favorável para o nosso mercado!
Grande abraço,
Felipe Quintino
CEO do Nexum Group