A cotação da celulose de fibra curta pode voltar a subir na China. Após quase um ano de preços líquidos oscilando em torno de US$ 450 por tonelada, as brasileiras Suzano, Klabin e Eldorado estão anunciando um reajuste de US$ 20 por tonelada. A chilena CMPC já havia oficializado novo preço para o mercado chinês a partir de novembro.
Segundo fontes do mercado, os clientes de Suzano e Klabin já foram informados sobre o aumento de US$ 20 por tonelada, com aplicação imediata. A Eldorado e a chilena Arauco também já teriam iniciado a comunicação aos clientes. A CMPC abriu a nova rodada de reajustes na última semana, ao informar aos clientes chineses que, a partir de novembro, o preço líquido da celulose de eucalipto subirá para US$ 470 a tonelada. A informação foi divulgada pela consultoria Fastmarkets Risi.
No início desta semana, juntamente com a notícia sobre o aumento da CMPC, a tese de que outros produtores sul-americanos acompanhariam esse movimento ganhou força.
Do lado da oferta, o impacto das paradas para manutenção em fábricas, que ocorreram no segundo semestre em virtude da pandemia de Covid-19, ainda não foi notado nos volumes colocados nos portos. Isso porque a matéria-prima que chegou recentemente à China foi embarcada há cerca de dois meses, quando ainda não havia sido realizado um grande número de paradas. Agora, espera-se que os volumes em trânsito passem a refletir as PG.
Grandes produtores, como a Suzano, têm reiterado que o nível de preço atuais da fibra curta não é sustentável, já que os produtores brasileiros geram caixa, mas não têm retorno sobre o capital empregado. Para os fabricantes do Hemisfério Norte, onde os custos de produção são mais elevados que os do Brasil, o atual cenário é ainda mais delicado, e muitos têm registrado prejuízo operacional. Apesar de a demanda seguir firme na China e nos Estados Unidos – o que daria suporte à recuperação – não há perspectiva de mudança na trajetória da demanda nos próximos anos.
O Itaú BBA, em amplo relatório sobre o impacto de novas fábricas de celulose na América do Sul e na China nas cotações da matéria-prima, avalia que, a partir de 2025, o preço mínimo para que novos projetos saiam do papel deverá estar em US$ 530 por tonelada (ou US$ 600 por tonelada em termos nominais). Os analistas Daniel Sasson, Ricardo Monegaglia e Edgard Pinto de Souza acreditam que esse seria o piso para que futuros investimentos na indústria proporcionem retorno mínimo de 5%, incluindo regiões mais atrativas como a América Latina, de modo a impedir quedas mais acentuadas no longo prazo.
As projeções mais conservadoras, por sua vez, apontam para preços da fibra curta no longo prazo abaixo dos US$ 600 por tonelada, vistos na última década, em boa parte devido ao menor custo de produção dos novos projetos e da desvalorização cambial nos mercados emergentes, que contribuiu para a competitividade desses produtores. Todavia, parece haver um limite para que os preços fiquem muito aquém dessa marca justamente por causa do retorno mínimo esperado, avaliado pela diferença entre o retorno sobre o capital investido (ROIC) e o custo médio do capital (WACC).