Em alerta, mercado brasileiro de nonwoven adia novos projetos
O setor tem sido impactado pela menor competitividade do não tecido nacional e da entrada crescente de importados com a isenção de imposto para itens da “lista covid”
A indústria brasileira de nonwovens, os chamados não tecidos, começou a adiar novos projetos no país. Mesmo com o aumento das vendas até o primeiro semestre por conta da pandemia, o setor entrou em estado de alerta por conta da menor competitividade do não tecido nacional, da entrada crescente de importados com a isenção de imposto para itens da “lista covid”, como as máscaras de proteção, e, mais recentemente, o impacto negativo da inflação no consumo.
“Há projetos sendo postergados e já começamos a ver movimentos mais firmes no sentido da redução de custos”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Não Tecidos e Tecidos Técnicos (Abint), Carlos Eduardo Benatto.
Em 2020, a produção brasileira de não tecidos – obtidos principalmente a partir do polipropileno (PP) e do polietileno (PE) e usados em embalagens, descartáveis higiênicos e filtros, assim como na agricultura e indústria automotiva – recuou 1,5%, para 360,6 mil toneladas, segundo levantamento da entidade.
Simultaneamente, o consumo aparente avançou 4,26%, atingindo 407,8 mil toneladas no ano passado, o que significa que o importado aumentou sua fatia no mercado doméstico. Conforme a Abint, a indústria brasileira deteve 83,56% da demanda em 2020. No ano passado, essa participação caiu para 81,07%.
Com relação à produção, a queda foi relativamente baixa, mas a evolução da curva – com o primeiro semestre muito bom e o segundo muito ruim – alarmou o setor. No segmento de “spunmelt”, que inclui máscaras de proteção, roupas médicas e outros produtos incorporados à “lista covid”, a queda foi superior a 10%. A vacinação e o arrefecimento da pandemia, na avaliação do executivo, influenciaram pouco esse movimento, já que o consumo aparente cresceu em 2021.
A expectativa é que essa lista perca a validade em breve – pois não há mais emergência de saúde pública –, o que trará um certo alívio aos fabricantes locais, já que os produtos importados voltarão a ser tarifados.
Ainda assim, 2022 caminha para ser um ano ainda mais complexo para a indústria. “Se tudo não der errado, [a produção] fica estável, porém com mais capacidade instalada”, afirma Benatto. No segmento de “spunmelt”, o aumento de capacidade deve ficar em torno de 15%, num momento de demanda pressionada pela inflação e mudança de hábitos de compra do consumidor.
Outro problema persistente é a menor competitividade do não tecido brasileiro em relação ao produzido em países onde os insumos são mais baratos, mesmo com a alta recente do petróleo. Cerca de 70% a 75% do custo total do produto nacional corresponde à matéria-prima.
“É uma competição desigual. Se quer ser um país competitivo, o Brasil precisa eliminar os antidumpings [sobre o PP] e fazer um trabalho de indústria como um todo, entendendo cada elo da cadeia”, diz o executivo, destacando que, na China, por exemplo, o custo do PP representa metade do que os produtores pagam no Brasil.
Como parte das medidas do governo para tentar conter o avanço da inflação, o imposto de importação da resina caiu 16% para 13%. Essa redução, no entanto, é insuficiente para estabelecer condições mais simétricas de concorrência, conclui Benatto.