Vendas de produtos de marca própria crescem no Brasil

Estudo sugere que até mesmo o consumidor de alta renda está comprando esse tipo de mercadoria
No mês de abril, as vendas de itens básicos de marcas próprias cresceram 32,6%, em base anual, valor muito acima da taxa de 10% de todo o setor de alimentos, de acordo com a Nielsen. O estudo sugere que até mesmo o consumidor de alta renda está comprando esse tipo de produto, que possui preços muito mais atrativos que o praticado por fabricantes tradicionais.
Categorias como produtos de higiene e limpeza de marca própria também foram beneficiadas. Houve uma projeção de avanço de 9,6% nas vendas dessas linhas, que devem movimentar R$ 8 bilhões até dezembro, de acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização (Abmapro).
Neide Montesano, presidente da Abmapro, explica que os preços desses produtos são até 40% menores quando comparados às demais marcas. “Os fornecedores são pequenos, portanto, têm menos custos com folha de pagamento, marketing, embalagem e logística. A margem deles também é menor”, diz.
Um estudo da consultoria Bain & Company ressalta a busca do consumidor por produtos de menor preço como forma de reduzir gastos durante a pandemia, sejam eles itens de marca própria ou versões de marcas tradicionais em embalagens menores.
Esse movimento deve levar fabricantes a reverem seu portfólio. “É melhor ter uma segunda oferta, ter uma canibalização você mesmo, do que a marca ser abandonada”, afirmou Federico Eisner, sócio-diretor da Bain.
Dentre os consumidores entrevistados de baixa renda, 35% a 40% migraram para produtos de menor preço em maio, mas a mudança também foi verificada na camada mais favorecida da população em maio.
Até abril, cerca de 10% das pessoas com renda maior buscavam marcas mais baratas e, no mês seguinte, essa fatia dobrou ou foi além em algumas categorias. Para Eisner, o movimento surpreendeu, porque havia uma expectativa de que os mais ricos migrassem para produtos ainda mais caros como forma de indulgência em um momento de privações.
Na avaliação do diretor da Nielsen, o brasileiro está confiando mais nas marcas dos supermercados, o que seria resultado de um longo trabalho feito por grandes varejistas, como o GPA, dono de redes como Pão de Açúcar e Extra, e Carrefour, para mostrar os benefícios de seus produtos ao consumidor.
Mais uma vez, o papel higiênico foi destaque entre os produtos de marca própria. “Os produtos de limpeza são a porta de entrada dos varejistas nas marcas próprias”, defendeu a presidente da Abmapro.
De acordo com Antônio Sá, sócio fundador da Amicci, as marcas próprias de varejistas devem ganhar força no pós-crise, pois elas podem oferecer uma melhor relação custo-benefício, isto é, a mesma qualidade de outras marcas mais caras, com preços mais acessíveis. “As marcas próprias dos varejistas devem ganhar uma representatividade muito grande, isso aconteceu na Europa, nos Estados Unidos, está acontecendo aqui e deve se acentuar de uma forma incrível. Eu acho que o consumidor vai fazer isso, e naturalmente os produtos premium, que vinham numa crescente, vão ser algo mais pontual, vai depender de quando o Brasil reage [à crise]”, falou, no programa Talk Tissue com Felipe Quintino.
Isso pode indicar uma mudança de consumo tanto no perfil do comprador, como uma oportunidade para as varejistas. “Na hora que o consumidor vê que é a mesma qualidade e o produto é mais barato, não tem por que ele voltar à marca anterior. Você tem industrias preparadas, tem varejistas que estavam olhando de uma forma mais estratégica para isso, para que isso cresça e fidelize seus consumidores, você tem o nosso papel, pra gente ajudar a tornar isso de forma mais profissional no mercado, e o consumidor, que vai ter uma restrição maior nos próximos meses e estar muito mais propenso a experimentar novas coisas. Então, a marca própria vai evoluir, vai crescer e algumas empresas vão estar mais preparadas para isso”, finalizou.
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