Supermercados têm recuo nas vendas
Segundo o vice-presidente da Abras, os próximos meses podem ter um impulso no consumo em razão de benefícios concedidos pelo governo por meio da “PEC das Bondades”
Segundo dados da Abras, após um primeiro trimestre positivo em vendas nos supermercados em 2022, o segmento vem experimentando uma desaceleração nos últimos meses. De acordo com a associação nacional, houve um aumento de 2,02% no acumulado de janeiro a maio – em março, a alta era de 2,50% e, em abril, 2,59%.
Já para os próximos meses, espera-se que o consumo seja impulsionado pela “PEC das Bondades”, referente ao aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, ao aumento do auxílio-gás e a criação dos vouchers para caminhoneiros e taxistas. Os técnicos da Abras têm expectativa de que as vendas durante este ano sejam 2,8% maiores do que em 2021.
Para Marcio Milan, vice-presidente da associação, essa projeção pôde ser revista em razão da PEC aprovada na Câmara na última semana, que concede os benefícios à população e custará R$ 41,25 bilhões aos cofres públicos. “Parte desse valor com certeza vai vir para o consumo. Acredito que algo em torno de 50% desse valor, pelo menos”, afirmou Milan.
Apesar de ajudar a empurrar as vendas nos supermercados, segundo economistas, além da deterioração fiscal, a PEC pode adicionar 0,1 ponto percentual à inflação deste ano, na contramão da tarefa do Banco Central de reduzi-la.
Neste ano, até maio, a média de preços do índice Abrasmercado subiu 9,32%, superando o IPCA, índice da inflação medido pelo IBGE que ficou em 4,78% no mesmo período. O Abrasmercado reflete a cesta de compras dos 35 itens mais consumidos, incluindo produtos de higiene pessoal. Em maio, essa cesta custava em média R$ 765,82.
No acumulado de 12 meses, a variação é de 17,2%, também acima do IPCA, de 11,73%. Somente no mês de maio, a variação foi de 0,94%, com maior alta na região sul. Apenas a região sudeste apresentou queda, de 0,10%, devido ao aumento de volume de ofertas, de acordo com Milan.
Tendo em vista o contexto de preços, o executivo ressaltou que rupturas pontuais de estoques de alguns produtos são “comuns” em períodos inflacionários, porém rejeitou o risco de desabastecimento em razão de aumento da demanda por conta dos recursos extras do Auxílio Brasil.
O vice-presidente da Abras indicou, ainda, que o aumento de preços tem feito com que supermercados estendam seus períodos de negociação, o que pode justificar a falta de alguns produtos nas prateleiras. Outras estratégias têm sido a busca por mais fornecedores e maior aposta em produtos de marca própria.
Milan acrescenta que mesmo que o valor adicional da “PEC das Bondades” injete dinheiro no consumo, a demanda não será excessiva a ponto de empurrar a inflação para cima.
O cenário coloca as indústrias de papel tissue e de personal care em alerta, já que o processo inflacionário e a alta das matérias-primas, associados à redução das compras no varejo, espreme ainda mais as já apertadas margens dos fabricantes.