Papel higiênico, lenço umedecido e fraldas descartáveis vão ficar mais caros
Alta no mercado de celulose faz preços subirem no Brasil e no mundo
A turbulência no comércio internacional deve trazer aumento ao preço do papel higiênico e de outros produtos da categoria de tissues, que incluem itens como toalhas de papel, lenço umedecido e fraldas descartáveis. O movimento, que vem a reboque do possível aumento de tarifas comerciais, deve ganhar força e trazer ainda mais pressão sobre os lucros de companhias do setor, como a P&G. O maior impulso vem do aumento no preço da celulose, principal insumo para fabricação desses produtos.
A P&G, fabricante do papel higiênico Charmin e dos lenços Puff lá fora, disse nesta terça-feira que recentemente começou a informar à rede de varejistas em que está presente sobre um aumento médio de 5% no preço de venda dessas marcas. A companhia afirma que também está elevando em 4% o preço das fraldas Pampers na América do Norte.
A Kimberly-Clark já aumentou os preços da linha Kleenex e de outros produtos no segmento de tissue em todo o mundo em até 2% no segundo trimestre deste ano. Em paralelo, reduziu sua estimativa de lucro para o ano de 2018 como um todo.
A demanda da China, o maior mercado e de mais rápido crescimento em consumo de celulose no mundo, está no centro da queda na oferta global. Os preços da celulose registravam baixa histórica em 2016, enfraquecidos pela economia chinesa em desaceleração. A retomada econômica em 2017 estimulou o aumento da demanda por celulose, movimento que os fornecedores não conseguiram acompanhar devido ao fechamento inesperado de grandes papeleiras.
Além disso, em um esforço para reduzir seu papel como maior recicladora do resíduo mundial, a China importou apenas 7,1 milhões de toneladas do produto no primeiro semestre deste ano, queda de 52% na comparação com o ano passado. A medida que baniu o uso de papel reciclado misto importado no país entrou em vigor no último dia 31 de dezembro, abrindo no mercado chinês uma súbita demanda por grandes quantidades de celulose reciclada, utilizada em embalagens.
GUERRAS COMERCIAIS AFETAM OS PREÇOS
As guerras comerciais estão complicando o segmento ainda mais. No início deste ano, o Canadá aumentou suas tarifas para importações dos Estados Unidos em valor equivalente a US$ 575 milhões em produtos de tissue, papel higiênico e toalhas de papel.
Executivos da indústria temem que tarifas impostas pela China sejam o próximo passo nesse horizonte de disputas comerciais, caso os EUA torne realidade a ameaça de taxar outros US$ 200 bilhões em produtos importados da China.
Se a China reagisse à altura, impondo tarifas em patamares similares às dos EUA, alcançaria aproximadamente US$ 2,4 bilhões em exportações de papel e celulose para o país asiático, disse Jake Handelsman, diretor sênior de comércio internacional da Associação Americana de Florestas e Papel (AF&PA, na sigla em inglês).
— A China é um mercado muito importante para a nossa indústria. Então essas não são notícias bem-vindas — destacou Handelsman.
A celulose, produzida a partir de madeira ou papel reciclado, é a única matéria-prima utilizada em vários dos tissues, além de ser parte da produção de fraldas descartáveis e absorventes. A celulose de uma única árvore de eucalipto pode ser utilizada para produzir até mil rolos de papel higiênico.
A celulose de fibra curta, insumo usado para produzir papéis higiênicos e sanitários, avançou cerca de 60% desde o fim de 2016 no mercado internacional, segundo o Conselho de Produtos de Papel e Celulose (PPPC, na sigla em inglês), que monitora os preços com base em dados do mercado de consumo global. O preço da celulose de fibra longa, usada em fraldas e absorventes, subiu 21% no mesmo período.
— Eles precisam aumentar os preços. Se estão pagando 21% mais pela celulose de fibra longa e 60% mais pela de fibra curta, é preciso passar essa alta de custo adiante ou simplesmente não será possível manter as atividades — avalia Arnaud Franco, analista sênior do PPPC.
A celulose não é apenas o principal insumo para produtos de consumo como toalhas de papel, muitas empresas utilizam também embalagens produzidas a partir desta matéria prima. Com a escalada no custo de produção e embarque de produtos de papel, o consumidor deverá ter de pagar mais por itens de uso diário como absorventes e lenços de papel.
AMERICANOS JÁ PAGAM MAIS
Os americanos já estão gastando mais este ano para comprar muitos desses produtos, segundo cálculos da Bernstein, empresa de gestão de investimentos, com base em dados da Nielsen.
Na prática, o preço pago pelo consumidor depende da decisão dos varejistas, que acabam equilibrando reajustes dentro de uma gama de produtos, o que faz com que nem sempre reflitam a alta de custos repassada pelos fabricantes. É que o varejo pode aumentar o preço das toalhas de papel, por exemplo, evitando elevar preços de fraldas descartáveis.
Assim, enquanto a P&G afirmou em julho que evitou elevar o preço de seus produtos apesar do aumento do custo da celulose, o consumidor já paga mais pelo papel higiênico Charmin no mercado. A análise da Bernstein mostra que o preço médio do produto nas varejistas subiu até 6,4% nos trinta dias terminados no meio deste mês de julho.
Da mesma forma, os preços no varejo para a toalha de papel Bounty começaram a subir seis meses atrás, embora os preços do Puffs tenham caído ou se mantido estáveis desde o início deste ano. A P&G não comentou.
— A celulose tem efeito difuso. Quando avança, é como acertar uma bola de golfe dentro de uma mangueira de jardim, impactando toda a estrutura de custo da indústria — destaca David Garfield, consultor de produtos para o consumidor da AlixPartners.
Fonte: O Globo