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O futuro do setor tissue no Brasil

Por Luciano Barboza, CEO da IPEL

Um tema arrojado falar de futuro para qualquer setor em momentos de tanta incerteza. Eu estou no setor tissue há pouco mais de três anos, então não tenho vivência suficiente para comparar o presente ao passado e nem experiência suficiente no segmento para falar do futuro, mas tenho bagagem para gerar algumas reflexões, pois vivi grandes transformações no setor de bebidas, cerâmica e diversas áreas do varejo. É possível perceber claramente que algumas mudanças estruturais são muito similares, independentemente do setor, e que não se trata de futurologia, mas sim de algumas mudanças visíveis de mercado e consumo. 

Um tema que nunca sai de pauta é custo e produtividade na indústria. Um segmento que tem uma forte dependência de uma matéria-prima – que chega a representar 50% ou mais de seu custo e que sua variação pode interferir na geração de resultado de forma agressiva – nunca pode se descuidar. Dado que este é o contexto e não temos necessariamente o seu controle, nos cabe atuar onde podemos: tirar o máximo da capacidade fabril para diluir os custos, bem como a busca incansável por produtividade. 

O dilema do futuro neste assunto está relacionado a quanto podemos fazer uso de tecnologias para uma verdadeira transformação digital na indústria. Uso de sistemas de monitoria de produção já são bastante comuns, mas o uso dos dados gerados por estas soluções são realmente tratados, entendidos, e geram informação para a tomada de decisão em tempo real? Será que temos pessoas e processos para lidar com esta tecnologia a ponto de que ela se transforme realmente em um diferencial competitivo? Não vejo mais como desviarmos deste assunto e nem como não tratarmos dele com um olhar estratégico. Por exemplo, falar de Cientista de Dados para a indústria parece algo distante ou muito mais com cara de fintechs, será? 

A gestão de pessoas na indústria é outro tema que precisa de uma atenção especial. Está visivelmente acontecendo uma transformação no mundo e nas pessoas com a qual precisamos ficar atentos. Quando eu atuava no varejo, a fala era de que o varejo não oferecia carreira, portanto, era um emprego temporário. Agora ouço isso também na indústria. O desafio de chamar os jovens a se interessar e construir carreira neste segmento também está acontecendo. Agora, pergunto: se o varejo e a indústria não são mais desejados, onde está o futuro das carreiras? Criticamos os jovens porque estão pensando de forma muito diferente da que fomos criados, pois não têm ambição por carreira, por patrimônio, já que têm todas as respostas a suas perguntas e necessidades na palma da mão. Não vou entrar no mérito de certo ou errado, pois isso dependente sempre do ponto de vista de quem olha a situação. 

O que eu vejo é que o nosso modelo Taylorista que construiu a revolução industrial e o modelo militar de comando e controle do qual fomos doutrinados está em xeque! Lembro do filme de Charles Chaplin, “Tempos Modernos”, que ilustra literalmente o uso das pessoas como peças da linha de montagem, trazendo à tona na década de 30 uma reflexão de que precisávamos mudar. Será que mudamos? 

Eu acredito que a forma como fomos educados ainda reforça esta abordagem. Vivemos um momento único, em que temos pela primeira vez na história da humanidade quatro gerações convivendo ao mesmo tempo no ambiente de trabalho. Cada uma delas com sua forma de ver o mundo e com suas expectativas divergentes. Então, o futuro do trabalho passa por um ambiente onde as pessoas têm mais autonomia, não precisam necessariamente de chefes e sim de líderes que sejam facilitadores de suas vidas, sempre atentos a suas necessidades e sua saúde, tanto física quanto mental. 

Além disso, é necessário que atuem como educadores, considerando pessoas que têm um amplo conhecimento do trabalho e tenham como missão repassar este conhecimento ao seu time. E que boa parte do seu tempo seja dedicado a ouvir seu time e outra parte a analisar os dados de sua área de forma que possa melhorar o seu resultado constantemente. Adicionalmente, que não precisem ser “super-homens” que sempre aparecem para resolver crises e problemas que poderiam na sua grande maioria das vezes ser evitados. 

Por fim, mas não menos importante, a análise do futuro precisa abordar o consumidor e suas novas necessidades. Afinal, aquele funcionário descrito acima, quando fora do ambiente de trabalho, se transforma em um consumidor. Este consumidor tem muito mais acesso à informação, tem facilidade de criar opinião e com alguns poucos clics pode repercutir sua marca no mercado de forma positiva ou negativa! Este consumidor quer cada vez mais o serviço e não só o produto. O produto está acessível e na palma da mão, então o serviço acaba se tornando a nova moeda do mercado. O cliente, seja ele CPF ou CNPJ, quer cada vez mais um fornecedor confiável e ágil, pois para fornecer produto ele sempre terá várias opções, mas sua escolha será embasada em confiança e agilidade. 

Os três temas Produtividade, Pessoas e Serviços, para mim, definem o futuro dos negócios. Nenhum deles são simples ou fáceis de resolver, até porque eles se deparam com transformação digital, a mudança do mindset de pessoa, e o serviço ao cliente que encontra barreiras tecnológicas, de infraestrutura no Brasil, entre outras dificuldades. Mas não importa quão longe você esteja do assunto, a única certeza que tenho é que eles precisam estar em nossa pauta estratégica.  

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Luciano Barboza

Luciano Barboza possui mais de 20 anos de experiência profissional em Gestão Empresarial, Gestão de Projetos e Gestão de Pessoas, tendo histórico de sucesso em grandes corporações, como AmBev, Grupo Breithaupt, Máquina de Vendas (Salfer) e Portobello. Além disso, acumula experiência na implantação de Métodos de Gestão de Negócios, projetos e processos.
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