
Em
Montes del Plata iniciou as atividades industriais com cerca de um ano de atraso em decorrência de greves e demora na liberação de licenças e autorizações. Mas esse tempo perdido em relação ao cronograma original foi utilizado pelos sócios para consolidar sua carteira de clientes e qualificar a matéria-prima nos consumidores, numa estratégia que resultou em demanda acima do que Montes del Plata pode produzir. Para 2016, quando o volume produzido deve alcançar as 1,3 milhão de toneladas nominais, a joint venture já conta com encomendas 15% acima desse volume.
“O nível de produção está dentro da expectativa e, em junho, a fábrica já rodava [em ritmo de] na capacidade nominal”, disse ao Valor o vice-presidente executivo da divisão de Biomateriais da Stora Enso, Juan Carlos Bueno. “Vamos ficar em 1,2 milhão de toneladas em 2015 porque nos primeiros meses do ano ainda estávamos na curva de aprendizagem”, acrescentou.
Conforme o executivo, os planos de desgargalamento da fábrica, inicialmente estimados para 2016, continuam no radar, mas não há cronograma para sua execução. Neste momento, o foco de Montes del Plata está na conclusão da dragagem do porto que é usado para escoamento da celulose. O objetivo é acabar com a subutilização de navios, uma vez que as embarcações não podem ser carregadas em sua capacidade total, gerando um ganho aproximado de 25% por embarcação a partir de novembro.
Para produzir sua celulose, a fábrica utiliza dois tipos de eucalipto, globulus e dunnii, que dão origem a uma matéria-prima consumida principalmente pelas fabricantes de papéis especiais e similar ao insumo da espanhola Ence e da portuguesa Portucel.
Diante dessa característica, a celulose de Montes del Plata é vendida, principalmente, para papeleiras europeias, com cerca de 40% do volume de produção que cabe à Stora Enso, de acordo com o vice-presidente de Vendas e Marketing e responsável pela comercialização global de celulose da Stora, Alexandre Nicolini. “Nosso foco está na rentabilidade da operação. Hoje temos um problema bom para lidar, que é estarmos sobrevendidos em 15% para 2016”, brincou.
Na avaliação de Nicolini, o mercado global de celulose de fibra curta está bastante equilibrado, a despeito da sazonalidade. O período de verão no Hemisfério Norte concentra as paradas programadas para manutenção das fábricas de papel, o que se reflete no menor consumo de matéria-prima. “A grande preocupação, neste momento, é com a fibra longa, que ficou mais barata que a de eucalipto”, indicou o executivo. “Mas, olhando para o ano, o mercado está bastante estável”.
Para o próximo ano, a previsão é a de preços da celulose ligeiramente mais baixos, o que pode ser mais que compensado pelo efeito do real e do peso uruguaio desvalorizados, que são benéficos às exportadoras instaladas nesses países. “Temos uma demanda que cresce e uma moeda que favorece. O ano de 2016 tende a ser interessante”, complementou.
No Brasil, contudo, o otimismo tem viés cauteloso. De acordo com o vice-presidente executivo da divisão de Biomateriais da Stora Enso, a crise econômica, a instabilidade institucional e a inflação preocupam. “A gente não sabe o que pode vir pela frente”, ponderou.
A celulose de fibra curta representa hoje cerca de 40% dos negócios de biomateriais da Stora Enso, que é sócia também da brasileira Fibria na Veracel, instalada no sul da Bahia. O restante das receitas é proveniente das vendas de celulose de fibra longa, celulose solúvel e fluff (usada na produção de fraldas descartáveis e absorventes).
Valor Econômico