
Durante décadas, a cadeia de suprimentos global buscou eficiência máxima.
Matérias-primas vindas de um continente, fabricação em outro, montagem em um terceiro e distribuição para o mundo. O modelo reduziu custos, ampliou mercados e aproveitou o melhor de cada região – mas criou dependências complexas.
Hoje, essa rede global está sob pressão: instabilidade geopolítica, eventos climáticos extremos, falta de mão de obra e custos logísticos em alta.
No setor de bens de consumo, no qual tempo, inovação e qualidade são decisivos, cada falha de integração interna amplia os riscos externos.
A pergunta é inevitável: quem está pagando essa conta? E mais: ela não está ficando cada vez mais alta sem que você perceba?
O CUSTO INVISÍVEL DA FRAGMENTAÇÃO
A fragmentação não vem só de fatores externos. Muitas vezes, começa dentro da empresa:
- Negociar preço sem validar com logística a viabilidade de entrega;
- Lançar campanhas sem confirmar prazos com fornecedores e operações;
- Avisar sobre falta de insumo apenas quando o estoque está crítico;
- Definir um P&L distante do realizado, por premissas desalinhadas entre operações, comércio exterior e custos logísticos.
Esses erros já custam caro por si só. Combinados a um cenário global instável – conflitos fechando rotas, greves em portos, inundações bloqueando corredores logísticos –, o impacto se multiplica.
O RESULTADO?
- Lead times estourados e rupturas no ponto de venda;
- Estoques inflados, imobilizando capital;
- Fretes emergenciais e caros, muitas vezes internacionais;
- Perda de margem e penalidades contratuais.
Quanto disso é inevitável e quanto vem da falta de integração?
A LOGÍSTICA COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO
Muitas empresas ainda tratam logística como custo, quando, na verdade, ela é reputação e vantagem competitiva.
No setor de bens de consumo, logística eficiente e integrada significa:
- Assegurar o abastecimento de matérias-primas essenciais, evitando rupturas;
- Garantir que especialidades importadas – de alto valor e longos prazos – cheguem no tempo e nas condições ideais;
- Viabilizar o fornecimento de produtos acabados estratégicos, mantendo a marca bem-posicionada nas gôndolas;
- Manter abastecimento mesmo em cenários de escassez, antecipando riscos e propondo alternativas viáveis em prazo e custo;
- Cumprir prazos de reposição no varejo para preservar relevância e espaço de marca.
Mais do que mover cargas do ponto A ao B, logística é manter promessas. E, em cadeias globais, isso exige visibilidade ponta a ponta e decisões integradas entre compras, marketing, qualidade, produção e operações internacionais.
O CAMINHO PARA A INTEGRAÇÃO
Transformar logística em diferencial competitivo exige:
- Conectar todos os elos, do fornecedor internacional ao ponto de venda;
- Medir desempenho com métricas conjuntas entre as áreas internas;
- Colaborar com fornecedores estratégicos, prevendo demandas e criando contingências;
- Aplicar cada vez mais automação nos processos, usar big data, IoT e inteligência artificial para antecipar gargalos;
- Apoiar-se em frameworks com metodologia conhecida para padronizar processos e criar resiliência;
Empresas que adotam essas práticas reduzem desperdícios, diminuem dependência de transporte emergencial e se adaptam mais rápido a crises – Integração não é projeto com prazo: é cultura.
UMA QUESTÃO ESTRATÉGICA
O papel do líder de Supply Chain mudou. Não basta cortar custos: é preciso desenhar cadeias resilientes para um mundo volátil. Isso pode ser a diferença entre manter um produto nas gôndolas ou perder espaço para concorrentes mais ágeis.
A pergunta volta: se a logística pode diferenciar marcas, por que deixá-la fora da estratégia?
Vamos transformar a logística em vantagem estratégica antes que a conta da fragmentação pese ainda mais.
Minha dica: pense grande, mas comece pequeno e melhore. Cada avanço orgânico trará benefícios imediatos – e a exposição positiva virá mais rápido do que você imagina.