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Fragmentação logística: quem paga a conta?

Por Renzo Bittencourt

Durante décadas, a cadeia de suprimentos global buscou eficiência máxima. 

Matérias-primas vindas de um continente, fabricação em outro, montagem em um terceiro e distribuição para o mundo. O modelo reduziu custos, ampliou mercados e aproveitou o melhor de cada região – mas criou dependências complexas. 

Hoje, essa rede global está sob pressão: instabilidade geopolítica, eventos climáticos extremos, falta de mão de obra e custos logísticos em alta. 

No setor de bens de consumo, no qual tempo, inovação e qualidade são decisivos, cada falha de integração interna amplia os riscos externos. 

A pergunta é inevitável: quem está pagando essa conta? E mais: ela não está ficando cada vez mais alta sem que você perceba? 

O CUSTO INVISÍVEL DA FRAGMENTAÇÃO 

A fragmentação não vem só de fatores externos. Muitas vezes, começa dentro da empresa: 

  • Negociar preço sem validar com logística a viabilidade de entrega; 
  • Lançar campanhas sem confirmar prazos com fornecedores e operações; 
  • Avisar sobre falta de insumo apenas quando o estoque está crítico; 
  • Definir um P&L distante do realizado, por premissas desalinhadas entre operações, comércio exterior e custos logísticos. 

Esses erros já custam caro por si só. Combinados a um cenário global instável – conflitos fechando rotas, greves em portos, inundações bloqueando corredores logísticos –, o impacto se multiplica. 

O RESULTADO? 

  • Lead times estourados e rupturas no ponto de venda; 
  • Estoques inflados, imobilizando capital; 
  • Fretes emergenciais e caros, muitas vezes internacionais; 
  • Perda de margem e penalidades contratuais. 

Quanto disso é inevitável e quanto vem da falta de integração? 

A LOGÍSTICA COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO 

Muitas empresas ainda tratam logística como custo, quando, na verdade, ela é reputação e vantagem competitiva. 

No setor de bens de consumo, logística eficiente e integrada significa: 

  • Assegurar o abastecimento de matérias-primas essenciais, evitando rupturas; 
  • Garantir que especialidades importadas – de alto valor e longos prazos – cheguem no tempo e nas condições ideais; 
  • Viabilizar o fornecimento de produtos acabados estratégicos, mantendo a marca bem-posicionada nas gôndolas; 
  • Manter abastecimento mesmo em cenários de escassez, antecipando riscos e propondo alternativas viáveis em prazo e custo; 
  • Cumprir prazos de reposição no varejo para preservar relevância e espaço de marca. 

Mais do que mover cargas do ponto A ao B, logística é manter promessas. E, em cadeias globais, isso exige visibilidade ponta a ponta e decisões integradas entre compras, marketing, qualidade, produção e operações internacionais. 

O CAMINHO PARA A INTEGRAÇÃO 

Transformar logística em diferencial competitivo exige: 

  • Conectar todos os elos, do fornecedor internacional ao ponto de venda; 
  • Medir desempenho com métricas conjuntas entre as áreas internas; 
  • Colaborar com fornecedores estratégicos, prevendo demandas e criando contingências; 
  • Aplicar cada vez mais automação nos processos, usar big data, IoT e inteligência artificial para antecipar gargalos; 
  • Apoiar-se em frameworks com metodologia conhecida para padronizar processos e criar resiliência; 

Empresas que adotam essas práticas reduzem desperdícios, diminuem dependência de transporte emergencial e se adaptam mais rápido a crises – Integração não é projeto com prazo: é cultura. 

UMA QUESTÃO ESTRATÉGICA 

O papel do líder de Supply Chain mudou. Não basta cortar custos: é preciso desenhar cadeias resilientes para um mundo volátil. Isso pode ser a diferença entre manter um produto nas gôndolas ou perder espaço para concorrentes mais ágeis. 

A pergunta volta: se a logística pode diferenciar marcas, por que deixá-la fora da estratégia? 

Vamos transformar a logística em vantagem estratégica antes que a conta da fragmentação pese ainda mais. 

Minha dica: pense grande, mas comece pequeno e melhore. Cada avanço orgânico trará benefícios imediatos – e a exposição positiva virá mais rápido do que você imagina. 

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Renzo Bittencourt

Renzo Bittencourt é gerente de Comércio Exterior na Eurofarma, especialista em compras estratégicas internacionais e operações completas de Supply Chain, com foco em importação e exportação. Acumula 20 anos de experiência em empresas multinacionais dos setores farmacêutico, bens de consumo, higiene e cosméticos, sendo os últimos 15 anos em cargos de liderança, conduzindo projetos de otimização logística, gestão de riscos e desenvolvimento de fornecedores. Dedica-se a integrar inteligência de mercado e eficiência operacional, promovendo uma visão estratégica e atualizada da cadeia logística internacional.
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