J&F e Paper Excellence se enfrentam em processo após cancelamento de acordo de aquisição
Os irmãos Joesley e Wesley Batista, maiores acionistas da JBS (empresa que controla, entre outras, a Friboi), entraram numa disputa bilionária com um dos herdeiros da família Widjaja, da Indonésia. Há um ano, os irmãos Batista, por meio da holding J&F Investimentos, concordaram em vender a Eldorado Brasil Celulose para a Paper Excellence Group , uma empresa sediada na Holanda e de propriedade de Jackson Widjaja, neto do magnata sino-indonésio Eka Widjaja.
A oferta de R$ 15 bilhões (US$ 4 bilhões), vista como alta demais para rivais brasileiros do setor de celulose, veio como uma oportunidade única para os Batistas, que corriam para vender ativos após firmar um acordo de delação premiada que atingiu em cheio a JBS.
No início do mês passado, porém, a J&F Investimentos informou que havia decidido exercer o direito de encerrar o acordo depois que a Paper Excellence não cumpriu o prazo de 12 meses para a conclusão do negócio. A empresa de Widjaja, que já havia comprado uma participação de 49,4% na Eldorado, permaneceria como sócia minoritária, enquanto os brasileiros manteriam o controle, informou a J&F. A Eldorado é atualmente comandada por Aguinaldo Ramos Filho, sobrinho de 25 anos dos irmãos Batista, que também tem um assento no conselho do JBS.Acusação de inflar valor patrimonialIsso levou a Paper Excellence a abrir um processo de arbitragem contra a J&F em São Paulo. A empresa holandesa, cujas operações estão localizadas no Canadá e na França, diz que tem dinheiro para concluir o negócio e acusa os Batistas de sabotá-la, criando dificuldades e obstáculos depois que um aumento nos preços da celulose inflou o valor patrimonial da Eldorado, segundo documentos judiciais aos quais a Bloomberg teve acesso.
Pessoas próximas à Paper Excellence disseram que, em uma reunião em agosto, em Los Angeles — da qual participaram tanto Widjaja quanto Ramos Filho —, a J&F exigiu um pagamento adicional de R$ 6 bilhões para concluir o negócio. Fonte ligada à J&F diz que esse número foi inferido em uma discussão preliminar e informal sobre os termos de um possível novo contrato de venda solicitado por Widjaja. Ainda de acordo com a J&F, o confronto não foi sobre o valor do negócio, mas estava relacionado à incapacidade da Paper Excellence de liberar R$ 8 bilhões em garantias, incluindo ações da JBS, que os Batistas ofereceram para garantir empréstimos bancários à Eldorado. Essa foi uma precondição “crucial” para que a Paper Excellence assumisse o controle da Eldorado, disse a J&F em comunicado.
Segundo a Paper Excellence, a maioria dos credores — incluindo o BNDES — recusou novas garantias para os empréstimos e disse que só liberaria garantias da J&F se mais de R$ 5 bilhões em dívidas fossem pagas antecipadamente pela Eldorado, segundo documentos judiciais. Procurado pela Bloomberg, o BNDES não quis comentar. Como alternativa, a Paper Excellence sugeriu injetar capital na Eldorado — ou emprestar o dinheiro através de pré-pagamentos de exportação — para que a fabricante de celulose pudesse pagar seus credores e liberar as garantias. A J&F recusou, argumentando que isso significaria diluir a participação dos Batistas na produtora de celulose. Também disse que a Paper Excellence assumiu total responsabilidade por liberar as garantias, e que mudar a estrutura acionária ou de capital da Eldorado não era algo que os Batistas deveriam ser forçados a fazer sob os termos do acordo assinado no ano passado.Guerra de licitaçãoUma ação legal da Paper Excellence exigindo que a J&F aceite os termos foi indeferida por dois juízes brasileiros, que apoiaram os argumentos da J&F. O litígio significa um novo obstáculo para a Paper Excellence em seus planos de expansão para o Brasil. Em março, a empresa perdeu uma disputa pela aquisição da gigante Fibria Celulose depois de não apresentar as garantias financeiras para a transação.