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Com o cenário recente de elevados custos de energia elétrica praticados pelas concessionárias e também a incerteza quanto à continuidade do abastecimento (fatores causados pela escassez hídrica), as companhias que possuem umaalternativa de fornecimento de eletricidade contam com um diferencial de mercado. Algumas dessas empresas já vinham projetando seus planos há alguns anos, e outras começam, neste momento, a fazer a análise se o melhor é ser apenas o chamado consumidor cativo ou produzir a energia para o seu próprio consumo.
No Rio Grande do Sul, o empreendimento mais imponente nesse sentido é o da CMPC Celulose Riograndense. A ampliação em 1,3 milhão de toneladas de celulose ao ano da planta do grupo localizada em Guaíba (chegando a um total de 1,8 milhão de toneladas), que será alcançada em maio deste ano, será acompanhada pelo aumento do seu potencial de geração de energia. O presidente da empresa, Walter Lídio Nunes, informa que a unidade saltará de uma capacidade instalada de 55 MW para 250 MW (o que corresponde a cerca de 6,5% da demanda de energia elétrica de todo o Estado). O incremento será viabilizado por meio do aproveitamento de resíduos do processo de fabricação de celulose, um material conhecido como licor negro. “É muito semelhante a um piche”, compara o dirigente.
Se o produto não fosse recuperado e utilizado como combustível para a geração de energia, teria que ser tratado como resíduo. O investimento da empresa na elevação da capacidade de geração de energia é na ordem de US$ 425 milhões. Com a iniciativa, a planta será totalmente autossustentável quanto ao consumo de eletricidade, sobrando ainda 30 MW para serem vendidos para a rede de energia elétrica. Nunes reitera que essa comercialização deverá ser feita de forma regular. “Claro que estaremos conectados na rede e, se houver uma situação de emergência, poderemos adquirir energia de fora”, argumenta. Atualmente, a empresa compra cerca de 27% da demanda de energia da unidade de celulose, da fábrica de papel e da planta de produtos químicos que se encontram dentro do complexo de Guaíba. O restante é complementado pela produção própria.
O empresário recorda que a decisão de aumentar a capacidade de produção de energia da fábrica foi tomada desde o conceito original do projeto de expansão da capacidade de celulose. Entre os pontos que indicaram a viabilidade da ação estava a disponibilidade da biomassa como combustível (licor negro). “A energia sempre será um fator crítico, e estamos desenvolvendo um plano para otimizar a eficiência energética da planta, então a tendência é que os excedentes de energia, no futuro, cresçam ainda mais”, enfatiza o dirigente.
O presidente da CMPC vê a autossustentabilidade da unidade gaúcha como uma vantagem mercadológica em meio à crise energética do País. Para ele, o panorama vivido pelo Brasil não é uma surpresa. O dirigente critica o planejamento do setor elétrico nacional, o qual classifica de atrasado. “O País tem uma capacidade hidráulica enorme e não está explorando isso”, adverte. Nunes acrescenta que estão sendo feitas usinas com reservatórios limitados, para inundar áreas menores devido às questões ambientais. Ele ressalta ainda que o sistema nacional de transmissão não é confiável, sendo que há muitas áreas conectadas por apenas uma linha de maior porte.
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