Talvez as lideranças corporativas nunca tenham sido tão desafiadas como em 2020. Mas este cenário pode ser a bússola que dirá se a direção que a companhia está seguindo é o caminho do respeito pelas pessoas, ou não. Além de também ser um mar de aprendizados e legados para o futuro. Tudo depende de como vamos encarar. Como escreveu Nelson Mandela em seu livro O longo Caminho para a Liberdade, “coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele”.
O vírus também se transformou em uma crise humanitária. E o desconhecido se aliou a um cenário do mundo conectado e dinâmico, ávido por informações, que inflam as incertezas. Aqui está o primeiro ponto-chave.
O mais natural é dar atenção para aqueles em quem se tem confiança. Não é fácil fazer as lideranças das empresas serem ouvidas com credibilidade. Este é um valor que não é estabelecido de um momento para o outro. É fruto de uma relação construída por meio do diálogo, compreensão, trabalho colaborativo, equidade, entre uma série de atitudes que geram naturalmente este sentimento.
Segundo levantamento da Mckinsey, as companhias com uma cultura ágil já em execução demonstraram que não tiveram suas rotinas de trabalho afetadas com as mudanças causadas pelo choque da pandemia. Este conceito baseia-se em maior interação entre os indivíduos, colaboração e preparo da companhia para respostas a mudanças repentinas, não somente aos planejamentos de longo prazo. Assim, a maioria dos 25 executivos entrevistados revelaram que o alinhamento entre os times, reorganização de prioridades e rapidez na comunicação foram essenciais. Em números, a performance operacional até mesmo melhorou ou melhorou significativamente em 93% e o engajamento dos profissionais subiu em 76% neste período de Covid-19.
As empresas que não se humanizaram estão fadadas a terem uma vida curta. A tecnologia chegou para nos auxiliar, mas jamais para nos substituir. É estratégico investir em inteligência de precisão, sem dúvidas, mas sem esquecer que haverá um humano para apertar o botão. E que toda decisão tomada pela companhia tem consequências que vão além de seu ambiente, impactando famílias, parentes e amigos. Isto reflete na qualidade de vida, na produtividade, no bom ambiente de trabalho, na vontade de crescer profissionalmente.
Não se pode esquecer que, no “manual das crises”, o tempo é um bem extremamente precioso, que deve ser administrado com o máximo de zelo para que o relógio ande de mãos dadas com o seu planejamento para evitar possíveis problemas secundários. Em primeiro lugar, sem dúvidas, estão a saúde e segurança do colaborador. Neste contexto de Covid-19, está aliado o esforço hercúleo em manter empregos e renda.
E assim, entender o momento, trabalhar o hoje e reforçar a comunicação, percebendo o que as pessoas querem ouvir e não somente o que o líder quer falar, passa a ser um exercício de empatia, de se colocar no lugar do outro. Um grande aprendizado. É preciso deixar a zona de conforto e realmente vestir o uniforme do time e entrar em campo para jogar.
O que demonstrou também que o distanciamento não é a desculpa para falta de proximidade com a equipe. Houve uma aceleração de tendências, como o home office, mas ao mesmo tempo mais ferramentas digitais possibilitam a conexão entre diversas pessoas simultaneamente, não só para as reuniões. Por que não cafés da manhã agradáveis com seus colegas de trabalho, mesmo que virtualmente? Por que não happy hour? Por que não um bate papo? É possível ser criativo em momentos de descontração.
E se a sua empresa estiver no caminho correto, certamente você terá a seguinte percepção: a pandemia trouxe também cooperação e solidariedade espontaneamente.
Por mais que voltemos na história e busquemos alguma correlação no passado, a Covid-19 é diferente de tudo o que já enfrentamos. E diariamente, o exercício das lideranças é se reinventar. O importante é conduzir racionalmente, mas sem deixar de ser genuinamente humano e sincero. Pois no final de tudo isso, o colaborador olhará para trás e se perguntará: e, então, o que a minha empresa fez por mim?