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Dia da Consciência Negra: desafios dos profissionais negros no mercado de trabalho brasileiro

Apesar dos avanços em políticas públicas e iniciativas privadas voltadas para inclusão, a realidade demonstra que ainda há muito a ser feito para garantir igualdade de oportunidades e tratamento

As pessoas pretas e pardas representem mais de 56% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas continuam sendo as mais afetadas pelo desemprego, subemprego e discriminação salarial. Estes desafios são intensificados por um racismo estrutural que reflete desigualdades históricas no acesso à educação e à ascensão profissional.

De acordo com dados do IBGE, a taxa de desemprego entre negros é mais alta do que entre brancos. Em 2023, entre a população negra 14,6% estava desempregada, comparada a 9,6% entre os brancos. Além disso, negros ocupam, em sua maioria, empregos informais, com 47,3% deles em empregos sem carteira assinada, em comparação com 34,6% entre brancos.

Em 2023, o rendimento médio mensal de trabalhadores negros em cargos de gerência no Brasil era menor do que o recebido por pessoas brancas. Segundo levantamento feito pelo portal Vagas, site de recrutamento e seleção, enquanto a renda média de brancos era de R$ 6.769,55, para pretos e pardos era de R$ 3.905,03. Essa disparidade persiste em diversas áreas, mesmo com nível de escolaridade similar, o que evidencia a discriminação salarial no mercado de trabalho.

Apesar de representarem a maioria da força de trabalho, dados de pesquisa de 2023 indicam que apenas 29,9% dos cargos de gerência e chefia são ocupados por negros. Isso reflete uma barreira histórica de acesso e ascensão a posições de maior poder e decisão.

O IMPACTO DO RACISMO ESTRUTURAL

Essas desigualdades estão profundamente enraizadas no racismo estrutural, que se reflete não apenas no mercado de trabalho, mas também no acesso a direitos fundamentais como educação, saúde e moradia. Profissionais negros enfrentam discriminação velada ou explícita desde o momento da contratação até a falta de oportunidades de crescimento dentro das empresas, o que agrava a sensação de exclusão e limita suas chances de ascensão social.

Durante o painel Recursos Humanos e os Desafios da Busca Profissional Negro, do Fórum Brasil Diverso 2024, realizado no início de novembro no Memorial da América Latina, em São Paulo, Dinamar Makiyama, CEO do Grupo Makiyama, de empresas especializadas em recrutamento e gestão de pessoas, dividiu sua experiência sendo diretora executiva negra.

Antes de ser CEO da própria empresa, Dinamar já havia sido diretora em outra organização onde teve uma experiência positiva. “A empresa tinha um processo de acolhimento. O fato de eu ser negra não fazia diferença, eu era tratada como todas as outras pessoas. Isso me trouxe um resgate de autoestima. porque, até então, eu entendia que aquele lugar de líder não era para mim. Eu acreditava que os preconceituosos tinham razão”, lembrou.

No entanto, quando abriu o seu próprio negócio, com mais duas sócias negras, viu a situação mudar. “Aí as portas se fecharam para mim. As empresas, com seus gestores quase todos brancos cis, não queriam saber de serem treinados por mulheres negras. Tanto que busquei continuidade desse trabalho na gestão pública, porque lá você entra por licitação, não precisa ser contratada por alguém que vá te rejeitar por causa da cor da sua pele”, relatou a diretora executiva.

O CAMINHO PELA FRENTE

Embora o mercado de trabalho para negros e negras tenha apresentado alguns avanços, como cargos estratégicos em empresas engajadas, a transformação ainda é lenta. O desafio é mudar uma estrutura que foi historicamente desenhada para excluir e explorar.

Adriano Sartori, CEO da CBRE Brasil, empresa de serviços imobiliários comerciais, durante o Fórum Brasil Diverso 2024, disse estar implementando iniciativas de inclusão de profissionais negros na sua organização. “Lançamos um programa chamado Black Excellence, que permeou a empresa inteira, o que nos permitiu fazer as contratações certas”, afirmou o executivo. “Mas envolveu principalmente as lideranças, porque, se você deixar a questão da inclusão de negros só na mão do RH, ela não avança. O RH precisa do apoio da liderança”.

A cofundadora do Instituto Carlotas, uma organização sem fins lucrativos que visa erradicar as desigualdades sociais e a violência, Fabiana Gutierrez, também acredita que “as pessoas que estão nos espaços de poder, majoritariamente brancas, precisam se dar conta de que não há negros em quantidade trabalhando em posições de gestão e o que essa alta liderança pode fazer para poder incluí-los [os profissionais negros]”.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Assim como Zumbi dos Palmares lutou por liberdade e igualdade, esse dia simboliza a resistência contra as opressões atuais, incluindo o racismo no ambiente de trabalho. A data reforça a urgência de políticas públicas e iniciativas privadas que promovam não apenas a inclusão, mas também a ascensão e o protagonismo de pessoas negras em todas as esferas da sociedade.

Fonte
Você RH IBGE CNN
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