Um consórcio formado por produtores de celulose e papel da China está avaliando a compra do projeto de celulose de eucalipto de mais de R$ 12 bilhões da Euca Energy, no município de Alto Araguaia (MT). Segundo fontes de mercado, além de chineses, um grupo japonês manifestou interesse no ativo, que está em fase de licenciamento prévio.
Procurado pelo Valor, o fundador da Euca Energy, o empresário Gilberto Goellner, confirmou a intenção de vender o projeto, finalidade para a qual foi contratado o Morgan Stanley, mas não entrou em detalhes sobre os interessados ou os valores pretendidos. A expectativa é de que uma transação seja alcançada ainda no primeiro semestre, com início de operação estimado para 2022.
O projeto prevê a construção de uma fábrica de celulose de fibra curta de 2 milhões de toneladas por ano, mediante investimento total de US$ 3,2 bilhões. O plano é entregar aos investidores uma operação já estruturada, desde o fornecimento de madeira à logística para escoamento da fibra, via rodovia ou ferrovia da Rumo. Aos novos sócios caberá financiar o empreendimento.
De acordo com Goellner, dono do grupo Girassol Agrícola, a área total compreende 330 mil hectares, dos quais 182 mil hectares para o plantio de florestas, suficiente para o projeto inicial e futura duplicação. A depender do perfil final dos investidores, até 100% da área plantada poderá ser arrendada – caso haja um sócio brasileiro, o projeto poderia contar com 60% de terras próprias e 40% de arrendamento.
“O custo de produção será extremamente competitivo, entre os quatro menores do mundo”, disse. Essa vantagem, conforme o empresário, será conferida, entre outros fatores, pela proximidade das áreas de plantio que abastecerão a fábrica. Inicialmente, o raio médio será de 150 quilômetros, caindo gradualmente a 80 quilômetros.
O projeto foi idealizado para viabilizar a produção de eucalipto na região, em parceria com a entidade CooperFlora Brasil. A ideia era atrair um grande produtor de celulose que firmasse contratos com produtores de eucalipto locais, entre eles a Girassol Reflorestadora, de Goellner. De acordo com o empresário, embora inicialmente o plano seja vender o projeto e firmar um contrato de suprimento de madeira, não está descartada uma potencial sociedade com os novos investidores.
Para estreitar relacionamento com os produtores asiáticos interessados, a Euca Energy pretende que o projeto seja apresentado em encontros bilaterais pela ministra da Agricultura, Teresa Cristina, durante viagem à Ásia. Dois grandes nomes da indústria papeleira asiática já estão presentes no Brasil: a Royal Golden Eagle (RGE), dona da April, e o dono da Paper Excellence, acionista da Eldorado, Jackson Wijaya, cuja família controla a Asia Pulp & Paper (APP).
Com vistas à obtenção da licença prévia da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso, a Euca Energy contratou a multinacional Pöyry para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), apresentados em audiência pública no fim de março. “O EIA-RIMA conduzido pela Pöyry concluiu pela viabilidade técnica e socioambiental da implantação da fábrica em razão da sustentabilidade do projeto”, disse em nota Kleib Fadel, especialista em engenharia ambiental da Pöyry.
Na nota, assinada pela multinacional finlandesa de consultoria e serviços de engenharia, são apontados como benefícios do empreendimento o aumento na arrecadação de impostos, crescimento da renda per capita, melhoria na qualidade de vida da população e novas oportunidades de emprego. No pico das obras, o projeto deve gerar mais de 8 mil empregos.
Em operação, a nova fábrica poderá empregar 4,4 mil pessoas, sendo 1,2 mil na atividade fabril e 3,2 mil na área florestal.
Já havia informações na indústria de base florestal sobre os planos do empresário, mas inicialmente a expectativa era a de que o projeto fosse executado em Goiás. A Girassol Agrícola produz e comercializa sementes, soja, milho e algodão, além de atuar com pecuária e no reflorestamento de eucalipto.
Fonte: Valor Econômico