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Por outro lado, as companhias expostas ao mercado de papéis – com exceção do produto voltado a embalagens – estão sofrendo com a fraqueza da demanda doméstica e o aumento dos custos de produção.
Os números mais recentes da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), que reúne os produtores de celulose, papel, painéis e pisos de madeira e florestas no país, mostram as trajetórias opostas percorridas desde janeiro. Em março, as exportações de celulose do país, considerando todos os tipos de fibra, dispararam 55,4% na comparação anual, para 1,007 milhão toneladas. Assim, fechou o primeiro trimestre com vendas de 2,8 milhões de toneladas, com alta de 19,9%.
Ao mesmo tempo, as vendas internas de papel, que oferecem melhor rentabilidade, caíram 4,4% em março, frente ao mesmo mês de 2014, para 452 mil toneladas. No ano, até março, as vendas das papeleiras nacionais ao mercado local recuaram 6,3%, para 1,29 milhão de toneladas. Recentemente, o presidente da Suzano Papel e Celulose, Walter Schalka, disse que todo o trimestre foi negativo para esse negócio.
Na prévia do desempenho de março, a entidade informou que os despachos de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado subiram 1,25% na comparação com março de 2014, para 287,452 mil toneladas. Frente a fevereiro, a expansão foi de 12,98%. Com isso, no acumulado do ano, as vendas de papelão no país somaram 818,97 mil toneladas, com baixa de 0,91%.
No início de abril, diz a ABPO, a percepção era de que os pedidos estavam chegando em velocidade menor do que o esperado. Porém, em maio, a indústria tradicionalmente tem o momento mais forte do semestre, com volumes mais próximos aos verificados entre agosto e dezembro. Isso nutre expectativas de que alguma reação possa ser iniciada.
Alheias a essas dificuldades internas, as vendas de celulose – praticamente tudo é exportado – vão sendo puxadas pela retomada do consumo na Europa e manutenção do apetite chinês. Desde o início do ano, dois aumentos de preço já foram implementados, mesmo que parcialmente – um terceiro reajuste foi anunciado pela Suzano, para maio, nos EUA -, em um momento de restrição da oferta em razão de paradas programadas feitas principalmente na América Latina.
Segundo a consultoria Risi, somente no Brasil, paradas programadas retiraram mais de 250 mil toneladas da commodity do mercado deste o início do ano, contribuindo para sustentar os preços internacionais. A única ressalva, no curto prazo, se deve à aproximação da inauguração da expansão da fábrica de Guaíba (RS).
Controlada pela CMPC, um dos maiores grupos empresariais do Chile e dona também da Melhoramentos CMPC, a Celulose Riograndense prevê dar a partida no projeto em 3 de maio. Com investimento de R$ 4,9 bilhões, a nova linha de celulose será apta a fazer 1,3 milhão de toneladas ao ano e vai quadruplicar a capacidade do complexo industrial da empresa, de 450 mil toneladas por ano atualmente.
Há quem defenda que a entrada gradual do volume adicional não pesará sobre as cotações internacionais, com o crescimento da demanda mais do que compensando a oferta da Riograndense. Entre os mais cautelosos, porém, predomina o receio de que o segundo semestre pode ser mais resistente à colocação de novos aumentos.
Valor Econômico