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Walmart vende fatia de 80% das operações no Brasil

Varejista espera perda líquida de US$ 4,5 bilhões com transação

Entrada de loja do Walmart em São Paulo – Paulo Whitaker/Reuters

O Walmart informou nesta segunda-feira (4) que vendeu a participação de 80% nas operações no Brasil para a Advent Internacional, uma empresa de private equity (que compram participações de outras empresas), deixando para trás um negócio de fraco desempenho em seu terceiro maior acordo internacional desde abril.

Não foram divulgados o valor da transação e outros detalhes do acordo. O porta-voz do Walmart, Randy Hargrove, disse que a varejista não vai receber pagamento pela unidade, mas pode receber até US$ 250 milhões da Advent com base no desempenho da unidade.

“O valor do negócio é quase segredo de estado, até porque a operação tecnicamente ainda não está fechada, já que depende das autoridades de concorrência do Brasil aprovarem”, diz o advogado José Samurai Saiani, sócio do Saiani & Saglietti Advogados, que realizou as operações legais por parte do Walmart nas negociações no Brasil.

A varejista espera concluir o negócio ainda este ano.

Segundo Saiani, a expectativa é que não haja empecilhos no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para a aprovação da venda e que um resultado saia em 45 a 60 dias. Até lá, diz o advogado não pode haver mudança na marca Walmart.

“Depois isso, acredito que as partes vão chegar a um entendimento”, diz. “A intenção é que seja feita uma aliança com a Advent, juntar esforços, a capacidade de um fundo importante com uma operadora também importante.”

Em março, a Reuters informou que, durante o processo de avaliação da empresa (chamado due diligence), potenciais compradores estimaram que o Walmart deve até US$ 3 bilhões em impostos a governos estaduais no Brasil, potencialmente somando-se à pressão por um desconto na venda.

Para o Advent, o negócio mantém a expansão na região. O fundo já investiu em 57 empresas no Brasil, num total de R$ 16 bilhões. O Walmart será a maior empresa do grupo em faturamento.

Segundo a Folha apurou, a expectativa é que o negócio seja tocado como se fosse uma empresa brasileira, com decisões tomadas no país.

A empresa pretende investir em clubes de compras e no modelo atacarejo. O Sam’s Club deve ganhar força na nova gestão. A proposta é tirar o atraso do crescimento.

Para o Walmart, os planos de saída do Brasil acontecem em um momento de reformulação internacional. Em abril, o Walmart cedeu o controle da Asda no Reino Unido para a concorrente local J Sainsbury por US$ 10 bilhões.

O Walmart tem recuado especialmente em mercados de crescimento mais lento e investindo em lugares como China e Índia. O Brasil foi por uma década foco de expansão, mas a unidade perdeu força nos últimos anos com problemas operacionais combinados com os efeitos de uma forte recessão

O que o Walmart precisa fazer agora é concentrar esforços em outras batalhas que acontecem em seu próprio território, segundo Olegário Araújo, pesquisador do GVcev (Centro de Excelência em Varejo da FGV).

Em meados do ano passado, a rede alemã Lidl, que tem cerca de 10 mil lojas ao redor do mundo, abriu sua primeira unidade nos Estados Unidos. Famosa pela política de preços baixos, um rótulo que sempre foi do Walmart, a Lidl registrou preços 9% mais baixos que os do concorrente americano, segundo pesquisa da consultoria Jefferies.

Na largada, enquanto iniciava sua expansão em território americano, a rede alemã pressionou o Walmart a baixar ainda mais os preços num momento em que a deflação nos alimentos nos EUA pressionava as margens no varejo. Na mesma época, outra frente de ataque veio da gigante do comércio eletrônico Amazon, que se impôs como um rival no mundo físico. Em junho de 2017, a Amazon anunciou a compra da rede de lojas físicas de alimentos Whole Foods por US$ 13,7 bilhões. A disputa com a Amazon transpõe as fronteiras americanas. Neste mês, o Walmart anunciou a compra, por US$ 16 bilhões, da Flipkart, a maior varejista online da Índia, que a Amazon almejava.

Fonte: Folha de São Paulo

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