Tipo de fibra utilizada na fabricação do Tissue é indispensável para atingir qualidade desejada

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De olho nessa fase transitória e na demanda em ascensão de todo o segmento tissue, a nova fábrica da Klabin, em Ortigueira (PR), com inauguração prevista para o primeiro trimestre de 2016, vai produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose, das quais 400 mil de fibra longa, sendo parte convertida em celulose fluff, utilizada principalmente na fabricação de fraldas descartáveis e absorventes higiênicos. “No ano passado, o Brasil importou e consumiu cerca de 300 mil toneladas de fluff. Esse volume deve crescer mais de 4% ao ano nos próximos cinco anos, de acordo com projeções de mercado. Com a nova fábrica, a Klabin contribuirá significativamente para o desenvolvimento desse mercado, oferecendo opção local ao produto importado. ”, afirma Francisco Razzolini, diretor de Planejamento, Projetos e Tecnologia Industrial.
Além da alta qualidade e estabilidade dos produtos, um dos diferenciais da Klabin para atender a esse mercado está em uma máquina de secagem desenvolvida especialmente para a fabricação de celulose fluff. “O mercado tissue, por ser considerado de necessidade básica, tem futuro promissor, e vimos nele uma boa oportunidade. Ao avaliarmos o mercado, esse segmento se revelou vigoroso, com crescente demanda por fibras longas e curtas. Como temos florestas de pínus e eucalipto, optamos por duas linhas de produção na nova unidade, podendo ofertar ao mercado soluções diferenciadas com essas fibras”, detalha Razzolini sobre a estratégia adotada pela empresa.
Ele lembra que, para atender ao mercado tissue e de higiene pessoal, há três tipos de celulose com características próprias. No caso da celulose de fibra longa, que tem origem no pínus, o comprimento da fibra fica entre 2 e 4 mm, e seu uso confere características de resistência aos produtos. Parte dessa celulose pode ser convertida em fluff, destinada especificamente ao uso em produtos absorventes, como fraldas infantis e geriátricas, além de produtos para higiene feminina. Já a celulose de fibra curta, com tamanho entre 0,5 e 1 mm de comprimento, provém do eucalipto e tem menor resistência. Em contrapartida, confere alta maciez e boa absorção aos produtos. “Em geral, os fabricantes de papéis higiênicos, lenços descartáveis e toalhas de papel mesclam fibras curtas e longas nas composições de seus produtos, atingindo boa resistência com maciez e volume. A Klabin oferecerá ao mercado soluções em ambas as fibras – pínus e eucalipto –, alcançando importante diferencial em relação a nossos concorrentes. ”
A discussão sobre os rumos que as principais matérias-primas usadas na fabricação de tissue tendem a tomar já marca a indústria de papéis há certo tempo e inclui o uso de aparas no processo. “Há uma tendência mundial de redução no uso de papel imprensa e revista. Então, se falarmos de aparas como matéria-prima para a produção de tissue, surge a preocupação futura de não haver aparas suficientes para rodar as plantas de tissue”, contextualiza Marcelo Machado, diretor de Vendas da Kadant. O fato, continua Machado, é que esse cenário ainda não preocupa os fabricantes brasileiros, já que o País apresenta baixa taxa de reciclagem em comparação a outros países. “Dados da Ibá apontam que 47% dos papéis circulados no Brasil são reciclados, com grande contribuição dos papéis de embalagem. Existem, contudo, países europeus com taxas de reciclagem que giram em torno de 80%.”
Além do potencial de ampliação da taxa de reciclagem, a qualidade das aparas do Brasil se revela mais um aspecto favorável na opinião do diretor de Vendas da Kadant. “Em geral, nossas fibras são aproveitadas no primeiro ciclo de reciclagem, enquanto na Europa as fibras recicladas costumam estar no quarto ou quinto ciclo, impactando a qualidade.
“O fenômeno de redução e de dificuldades atreladas ao uso de aparas como matéria-prima para fabricação de tissue está muito distante das tendências mundiais. Ainda poderemos usufruir, por muito tempo, de um insumo de boa qualidade, no começo do ciclo de reciclagem. De qualquer forma, porém, sempre precisaremos contar com a reciclagem”, vislumbra.

Os custos relacionados ao uso de cada tipo de fibra também entram na soma que determina a competitividade dos fabricantes de tissue. Não à toa, já existem fábricas se movimentando para preparar suas plantas e deixá-las aptas a trabalhar tanto com aparas quanto com celulose. A tendência tende a se fortalecer nos próximos anos, na visão de Machado. “Todo mercado cíclico, em que uma matéria-prima desponta como mais vantajosa que outra em determinado momento, gera esse tipo de oportunidade. As fábricas que pretendem ser competitivas tendem a seguir por essa linha de ter o preparo necessário para trabalhar com aparas e celulose, não necessariamente com 100% de carga com cada matéria–prima, mas sim com uma combinação para aproveitar os melhores momentos de cada uma. Com o aumento do valor do dólar americano, podemos ver um significativo aumento no preço da celulose em reais. Quem trabalha com aparas não passou por esse aumento”, opina, frisando que flexibilidade é ponto inteligente no jogo financeiro.
Sarraf, diretor global de Tissue e Toalha da Solenis, aborda outra preocupação importante a respeito do longo prazo: não há quantidade suficiente de fibras disponíveis no mundo a partir de fontes tradicionais, como árvores e reciclagem. “Serão necessárias fontes de fibras alternativas adicionais para satisfazer as exigências futuras”, alerta. “Atualmente, estamos realizando pesquisas na área a fim de determinar se há fibras alternativas e identificar quais seriam seus impactos sobre a funcionalidade do papel. Também temos nos dedicado a encontrar maneiras pelas quais diferentes químicas poderiam ajudar a atingir os resultados desejados”, revela ele sobre o trabalho em desenvolvimento e sobre a trajetória que o setor deve seguir nos próximos anos.