Santher e Mili podem estar na mira da Bracell
Buscando se tornar um player relevante e com cobertura nacional na indústria de tissue, o grupo RGE, detentor da Bracell, está avaliando novas aquisições no país

A indústria de tissue brasileira deve continuar passando por operações de fusão e aquisição no curto e médio prazo. Após a compra da OL Papéis, o grupo asiático Royal Golden Eagle (RGE), detentor das operações da produtora de celulose Bracell, ainda avalia novas aquisições no país, com intuito de se tornar um player relevante e com cobertura nacional. Em paralelo, a Bracell segue construindo sua fábrica de tissue com capacidade de 240 mil toneladas anuais em São Paulo.
Nesse sentido, o RGE tem dois grandes nomes do setor em seu radar: a Santher e a Mili.
SANTHER
Uma das mais tradicionais fabricantes do país, a Santher foi vendida às japonesas Daio Paper e Marubeni em 2020, por R$ 2,3 bilhões. Contudo, segundo apurado pelo Valor Econômico, os sócios japoneses não conseguiram alinhar suas expectativas à realidade das operações, causando insatisfação, embora não esteja claro se há disposição de vender a companhia neste momento. Desde janeiro, conforme informações no LinkedIn, o ex-presidente da Santher, Eduardo M. Aron, está à frente da unidade de tissue e bens de consumo da Bracell.
Fabricante de marcas com alta penetração como o papel higiênico Personal, bem como guardanapos Snob, a Santher tem uma produção anual de 180 mil toneladas de papel, e se reestruturou financeiramente após uma crise causada pelo alto endividamento e o preço elevado da celulose – antes de ser vendida. Recentemente, a companhia tem investido, assim como outros concorrentes, no segmento de produtos premium.
MILI
Já a Mili – que tem capacidade de produção de 240 mil toneladas por ano –, considerada uma “noiva cobiçada” da indústria em razão da escala da operação e mercados de atuação, também atrai atenção de potenciais interessados. Embora a empresa negue que esteja à venda, o setor observa que não haveria interesse da segunda geração da família dos fundados em participar do negócio, o que pode precipitar sua venda em algum momento.
No contexto da alta dos custos e margens mais apertadas, para recuperar rentabilidade e aumentar sua competitividade, a empresa também aumentou o foco no segmento premium, seguindo a tendência do consumidor de migrar para o papel higiênico folha tripla e ampliar a oferta de produtos de personal care.
OUTROS FABRICANTES
Ainda há outros fabricantes regionais que podem despertar o interesse da Bracell, atendendo ao seu propósito de alcançar cobertura nacional, tendo em vista que os papéis tissue são mais rentáveis atuando nos mercados locais, por razões de custo de distribuição.
Além disso, muitos fabricantes não integrados – que não produzem a celulose para sua operação – também têm sofrido com os preços altos da commodity, que passou por uma forte valorização no último ano, chegando a estabilizar em uma alta histórica. Mesmo com um possível início de correção para este ano, por conta da entrada em operação de novas fábricas, ainda há a pressão sobre as margens em razão da concorrência acirrada e o elevado poder de negociação das varejistas, que fragilizou as finanças de diversas empresas.
CONSOLIDAÇÃO DE MERCADO
Dessa forma, é possível observar a onda de consolidação que o mercado de tissue tem atravessado. Além da aquisição da OL Papéis, outra movimentação recente foi a compra dos ativos de tissue da Kimberly-Clark no Brasil pela Suzano, que aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Combinando ambas as operações, de acordo com a Suzano, a participação de mercado deve alcançar 22% – calculada com base em dados da Nielsen –, alcançando o patamar de segunda maior player, atrás somente da Softys, que também cresceu no país por meio de aquisições.
O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS
Em nota, a Bracell informou que “analisa consistentemente oportunidades de negócios atraentes, inclusive no setor de tissue que, juntamente com o crescimento de papel e papel cartão, está alimentando a demanda global de celulose”. Contudo, a empresa apontou que “não pode responder a especulações de fusões e aquisições no mercado”.
A Mili, por sua vez, não se manifestou sobre o tema, enquanto a Santher disse que as informações não procedem.