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Queda no preço da celulose pressiona produtoras brasileiras

Os preços da celulose fibra curta devem seguir sob pressão nas próximas semanas

Depois de registrarem a maior queda semanal na China, os preços da celulose de fibra curta devem seguir sob pressão nas próximas semanas, com os produtores divididos entre ceder aos compradores e anunciar reduções, como já foi feito em novembro pela chilena Arauco, ou manejar o volume ofertado e garantir ao menos a estabilidade das cotações. Pesa a favor dos produtores o fato de nenhuma nova fábrica ter entrado em operação recentemente, o que naturalmente limita a oferta de celulose em um ambiente de crescimento de demanda.

De novembro até o início desta semana, o preço da fibra curta no mercado chinês acumula baixa de aproximadamente US$ 50 por tonelada, ou 7%. Na Europa, a desvalorização é de cerca de US$ 17, ou 1,5%, considerando-se os valores apurados pela Foex, que calcula índices de preços que servem de referência para a indústria global de celulose e papel.

O comportamento negativo das cotações e o receio de que a correção ainda não acabou têm pesado sobre as ações dos produtores brasileiros e levaram a uma queda generalizada dos papéis na B3 desde meados de setembro, anulando parte dos ganhos acumulados em 2018.

Do início de outubro até agora, os papéis de Suzano Papel e Celulose, Fibria e Klabin mostram baixa de pouco menos de 6% (Fibria) a cerca de 25% (Suzano). Nos casos de Suzano e Fibria, que juntas darão origem à Suzano S.A., a piora dos preços da fibra curta tem ofuscado parte do brilho da consolidação e, hoje, a ação da Suzano não reflete as sinergias que serão geradas, na avaliação de analistas.

O grande tombo nos preços internacionais da fibra curta foi registrado na última semana. Segundo o índice PIX, da Foex, divulgado na terça-feira, o preço líquido da tonelada vendida na China caiu US$ 29,51, para US$ 706,97. Na Europa, a queda na cotação foi de US$ 16,55, para US$ 1.033,45 a tonelada — o desconto foi maior no preço da celulose fibra longa, que vinha muito valorizada por causa de problemas operacionais que restringiram a oferta.

De acordo com o vice-presidente da área internacional de celulose da consultoria RISI, dona da Foex, David Fortin, os preços de revenda da fibra estão caindo vertiginosamente na China, alguns produtores reportadamente estariam baixando preços e os compradores têm limitado o volume adquirido, diante da incerteza quanto à tendência dos preços.

“Isso ocorre em um momento de desaceleração da economia chinesa e incertezas adicionais quanto à guerra comercial entre Estados Unidos e China. A chave para as perspectivas de preço de curto prazo são o tempo e o ritmo de retomada da demanda de papel e cartão”, afirma. Na avaliação do especialista, os estoques de celulose podem se mostrar insuficientes caso haja aceleração da demanda em 2019, o que levaria a uma potencial valorização. Por outro lado, a possibilidade de a situação atual da China se prolongar pode colocar pressão adicional de baixa.

Executivos da indústria ouvidos pelo Valor afirmaram que as previsões mais pessimistas, de queda de US$ 100 a US$ 150 por tonelada nos preços, não devem se confirmar. A percepção é a de que as cotações podem se manter estáveis ou recuar um pouco mais até o Ano Novo chinês, com margem para recuperação na sequência diante da ausência de novas fábricas ao menos por mais dois anos. Um agravamento das relações entre China e Estados Unidos, porém, pode mudar esse cenário.

Para o Itaú BBA, os preços da matéria-prima no curto prazo vão depender, em última instância, da capacidade de Fibria e Suzano manterem estoques mais altos, uma retomada nas compras chinesas antes do feriado prolongado do Ano Novo Lunar e dos preços da fibra longa naquele mercado, hoje US$ 20 inferiores aos da fibra curta. “Por enquanto, esperamos que os preços de dezembro permaneçam pressionados na China, uma vez que a demanda não deve mostrar forte recuperação e os preços da fibra longa devem seguir pressionados”, escreveram os analistas Marcos Assumpção, Barbara Angerstein, Daniel Sasson e Carlos Eduardo Schmidt.

Segundo fontes do banco, Suzano e Fibria não baixaram os preços da matéria-prima, enquanto Arauco anunciou redução e poderia lançar mão dessa medida novamente em dezembro.

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