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Kimberly-Clark e Klabin entre os melhores empregadores do Brasil

A ideia de trabalhar só pelo dinheiro ficou para trás. Nas empresas certificadas pelo Top Employers Institute, encontrar um sentido para o trabalho é o fio condutor das estratégias de motivação dos funcionários. Conheça as companhias com as melhores práticas de recursos humanos do país.

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Encontrar o emprego dos sonhos é um objetivo de vida para muita gente. O difícil é definir o que é um bom emprego. Há quem procure a estabilidade do funcionalismo público. Outros preferem as oportunidades de ganhos do mercado financeiro, a racionalidade da indústria ou a inovação das empresas de tecnologia. No fim das contas, é impossível agradar a todo mundo. Para as empresas, essa diversidade de opiniões traz um grande desafio. Em tempos de estagnação econômica, como o atual, a gestão de pessoas ganha um peso ainda maior. Criar um ambiente produtivo, manter as pessoas engajadas e focadas no cumprimento das metas, coletivas e individuais, é fundamental para sobreviver diante da crise.

A questão é que, nos últimos anos, o conceito de bom empregador evoluiu. Ainda que se mantenha importante, o peso da remuneração financeira como fator motivador está menor. A hierarquia se tornou menos rígida e a comunicação entre o topo e a base da pirâmide corporativa está mais fácil. O medo de perder o emprego, especialmente entre os jovens da chamada geração Y, já não é suficiente para tirar aquela última gota de suor dos funcionários. A ordem, agora, é encontrar o propósito das empresas, o significado das tarefas do dia a dia e dar um novo sentido ao trabalho.

Essa estratégia de resgatar os valores e os objetivos do negócio, que geralmente remetem à fundação das companhias, vem sendo adotada por praticamente todas as empresas de ponta, no que se refere à gestão de pessoas. Encontrar o sentido do trabalho tem sido o fio condutor das práticas de RH dos melhores empregadores do Brasil, certificados pelo Top Employers Institute, entidade holandesa, fundada em 1991, que opera em cerca de 100 países. Neste ano, o instituto e a Revista Dinheiro iniciam uma parceria exclusiva, que vai oferecer aos leitores da revista o melhor conteúdo sobre as mais modernas práticas de RH do mercado.

Trata-se de um reconhecimento, obtido por meio de uma pesquisa criteriosa, concedido a empresas que comprovam oferecer as melhores condições de trabalho para seus funcionários. “Quem quer ser competitivo globalmente sabe que o nosso projeto as ajuda a criar uma forte proposta de valor ao funcionário”, afirma David Plink, CEO do Top Employers Institute. “As companhias certificadas estão mostrando para seus pares, em todo o continente, como o foco no desenvolvimento dos seus funcionários promove as condições ideais para o crescimento.”

O processo de certificação envolve a análise detalhada de 585 práticas, divididas em nove tópicos. São analisados itens como a gestão de talentos e de desempenho, o planejamento, o desenvolvimento de lideranças e, claro, a remuneração e os benefícios. Há três anos no Brasil, em 2015 o instituto conferiu o selo de bom empregador a 26 empresas. Confira a lista completa no quadro ao lado. Maior banco público do País, o Banco do Brasil, certificado desde o ano passado, é um dos expoentes dessa tendência. Como seus funcionários são concursados, fica difícil substituí-los.

Para mandar alguém embora, a instituição financeira precisa abrir um processo disciplinar, o que leva tempo e gera custos. O desafio para os gestores do BB, como em toda empresa pública, está no fato de que é mais fácil para o empregado se acomodar. Não que ele vá deixar de cumprir sua função. Mas aquele algo a mais, aquela vontade de ir além da obrigação, pode desaparecer em meio à monotonia do dia a dia. “Precisamos convencer as pessoas da importância dos seus trabalhos”, afirma Robson Rocha, vice-presidente de gestão de pessoas e desenvolvimento sustentável do BB.

“Não basta apenas vender um financiamento ou um seguro, bater a meta pela meta; é fundamental que as pessoas entendam o significado dos seus trabalhos, que aquilo que estão fazendo vai fazer diferença na sociedade.” A tese de que é possível melhorar o desempenho da companhia, especialmente no que se refere aos resultados financeiros, encontrando o verdadeiro sentido por trás das ações dos funcionários, é apoiada por estudos acadêmicos. Um dos grandes expoentes dessa ideia é o professor Raj Sijodia, da universidade Babson College, de Boston, nos Estados Unidos.

Indiano naturalizado americano, Sisodia é cofundador do conceito de Capitalismo Consciente, movimento que vem ganhando adeptos em vários mercados, especialmente entre grandes corporações. Ele é baseado na ideia de que toda companhia é criada com um objetivo, que não é apenas ganhar dinheiro. “O que os empreendedores querem, geralmente, é cumprir uma missão e gerar algum impacto”, afirma Sisodia. “Isso é o que chamamos de propósito maior do negócio, a base do Capitalismo Consciente.” Com o crescimento das corporações, no entanto, essa missão inicial acaba esquecida, abrindo espaço para uma busca incessante pelo lucro.

A questão, segundo Sisodia, é que ao focar apenas no lucro, a empresa, na verdade, acaba lucrando menos. “As empresas mais bem sucedidas, no final das contas, são as que buscam fazer a diferença no mundo”, diz o professor. O desafio dos gestores de RH, e das principais lideranças das companhias, é resgatar essa missão inicial e traduzi-la para os funcionários. “Se as pessoas entendem o negócio, a estratégia, as metas da empresa e contribuem para isso, elas se sentem parte do todo e, consequentemente, se engajam em busca de um objetivo comum”, afirma Sergio Piza, diretor de gente e gestão da Klabin, fabricante de papel e celulose. Outra companhia ligada a papel, que figura na lista, é a Kimberly-Clark Brasil. A multinacional, atende ao mercado com produtos de higiene e cuidados pessoais.

“A compensação financeira justa é uma condição necessária, mas não é suficiente para motivar e engajar os colaboradores.” Segundo a direção do BB, ao entenderem o sentido daquilo que estão fazendo, os funcionários sentem menos a pressão das metas, tanto individuais quanto coletivas. “Quando a pessoa perde o sentido e a razão de ser daquilo que ela realiza, tudo fica mais árido”, afirma Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas do banco. Na prática, no entanto, não existe uma receita de bolo. A reportagem da Revista Dinheiro visitou mais de uma dezena de empresas certificadas pelo Top Employers.

Em cada uma delas, notam-se diferenças em termos de clima, organização, cultura e até no mobiliário corporativo. Em corporações mais antigas, como a francesa Saint-Gobain, cuja fundação, há 350 anos, é anterior à Revolução Industrial, existe uma preocupação maior em modernizar a gestão de RH. “Estamos passando por uma grande transformação global, que começa pelas pessoas”, afirma Adriana Rillo, diretora de recursos humanos e comunicação para o Brasil, Argentina e Chile da companhia. “O desafio é conciliar a grande diversidade de talentos e negócios que temos, dar um sentido para o que fazemos e gerar a sensação de pertencimento.”

Empresas de tecnologia, como a fabricante de eletrônicos Samsung e o SAS Institute, que produz softwares de análise e inteligência, adotam ambientes mais informais, com mesas compartilhadas e sem barreiras para facilitar a comunicação. Na DHL, do setor de logística, por sua vez, as baias são mais altas, o que dá mais privacidade. “As empresas têm necessidades distintas e a percepção dos funcionários também muda conforme o caso”, afirma Rogério Moraes, diretor de recursos humanos da Coca-Cola Femsa Brasil. “O que motiva um executivo no escritório, talvez não motive o vendedor que passa o dia inteiro na rua, enfrentando sol e chuva.”

O processo de encontrar o sentido do trabalho passa, também, pelo ato de ouvir os funcionários. Isso é importante por dois motivos. O primeiro é medir a percepção das pessoas em relação ao discuros da direção. Pode haver ruído nessa comunicação, o que joga todo o trabalho no lixo. O segundo é que, muitas vezes, soluções simples contribuem significativamente para aumentar a confiança da equipe. Na fabricante de medicamentos Takeda, por exemplo, o ato de instalar travas elétricas nos carros utilizados pelos seus representantes fez diferença. “Essas pessoas carregam amostras de produtos que, se furtadas, podem gerar sérias consequências”, afirma Ricardo Marek, presidente da empresa na América Latina.

“A possibilidade de fechar todas as portas e os vidros do carro com apenas um botão traz mais tranquilidade.” Algumas empresas, como o Google e a Apple, ganharam notoriedade por oferecer diversas facilidades aos empregados. Entre elas, serviços de creche, salas para sonecas e de jogos e até a possibilidade de levar o seu cachorro para o serviço. Ainda que não seja imprescindível para um bom ambiente de trabalho, esse tipo de ação ajuda a elevar a motivação. “Tudo o que você faz em benefício do funcionário mostra que a empresa se preocupa com ele”, afirma Márcio Dobal, vice-presidente do SAS para a América Latina. Apesar das diferenças, no entanto, em uma coisa que todos concordam.

Não há mais espaço para o chamado chefe carrasco. Os executivos ouvidos pela Revista Dinheiro afirmam que liderar pelo medo, adotar táticas militares e hierarquias rígidas são medidas ineficazes, que trazem mais problemas do que resultados. O líder moderno é aquele que joga junto, convence as pessoas, valoriza os pontos fortes e ajuda a melhorar os pontos fracos dos comandados. “O líder precisa ter atitude, energia, capacidade de relacionamento e paixão pelo que faz”, afirma Leocadio Antunes Filho, diretor-superintendente da Ipiranga, distribuidora de combustíveis. “A liderança influencia diretamente o desempenho da equipe; quanto mais o gestor conhece a estratégia e o propósito da empresa, maior é sua a capacidade de alcançar os resultados esperados.”

istoedinheiro.com.br

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