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Fabricantes não integrados debatem desafios da indústria de tissue

Durante a Fastmarkets Forest Products Latin America Conference 2025, foi realizado o painel exclusivo Tissue Leaders Lunch com a participação de Marcelo Domenico, CEO da Damapel, e Igor Dias, CEO da COPAPA

Nessa quarta-feira, 13, durante a Fastmarkets Forest Products Latin America Conference 2025, foi realizado o painel exclusivo Tissue Leaders Lunch, que reforçou a visão de mercado de players não integrados diante da movimentação de grandes produtores integrados. O painel foi moderado por Felipe Quintino, CEO do Nexum Group e fundador do Portal Tissue Online, com a participação de Marcelo Domenico, CEO da Damapel, e Igor Dias, CEO da COPAPA.

Com uma proposta de dinâmica aberta e espaço para perguntas da plateia, o painel promoveu uma discussão aprofundada sobre os principais movimentos estratégicos do setor, como a verticalização da cadeia produtiva, a premiunização do consumo, os desafios da competitividade para empresas não integradas, e as perspectivas de sinergia com o segmento de personal care. 

VERTICALIZAÇÃO 

Um dos pontos centrais do debate foi a verticalização da indústria de tissue, especialmente com o movimento de grandes produtores de celulose investindo em operações integradas de tissue. 

“A fábrica integrada tem uma vantagem de custo muito grande. Pouco importa se a planta compra celulose a preço de mercado, eles não têm, por exemplo, um pulper de desagregação, além da economia de energia”, afirmou o CEO da Damapel. “Além disso, algumas fábricas de celulose também possuem um acúmulo muito grande de créditos tributários, outra vantagem competitiva”, acrescentou. 

“Nesse ambiente, nós temos olhado cada vez mais para dentro da operação e buscado oportunidades para ajustar o custo de produção. Sob a nova realidade de mercado, buscamos ser bem criativos, tanto no desenho do custo de produção, como também no produto que você vai ofertar na ponta, para conseguir chegar com um preço competitivo”, complementou o CEO da COPAPA. “Ainda olhamos para a diversificação de portfólio, mas com limitações, por conta da eficiência”, complementou. 

DIVERSIFICAÇÃO DE PORTFÓLIO 

Estratégias de diferenciação e geração de valor também foram pautadas, reforçando a busca por competitividade no setor, bem como o potencial de crescimento de outros segmentos, como papéis toalha. Os executivos reforçaram como a tributação diferente do papel higiênico, bem como fatores culturais dos hábitos dos consumidores e custos de produção ainda travam a ampliação do consumo e variedade desse produto no mercado. 

Nesse sentido, a Damapel ainda avalia dedicar um foco maior ao mercado institucional, bem como o segmento de personal care. “Em algum momento, essa sinergia vai ser perseguida para que possamos ter um perfil um pouco mais diversificado e conseguirmos outras fontes de crescimento”, observou Marcelo Domenico 

Na COPAPA, a visão é de que as linhas de personal care – sendo fraldas, absorventes ou lenços – trazem uma oportunidade de equilibrar o mix de venda de forma que traga um resultado melhor. “Existe uma questão de entrada nesse mercado que passa por investimentos. Isso tem que ser analisado”, ponderou Igor Dias. 

Foto: Divulgação/ Fastmarkets

PREMIUMNIZAÇÃO 

O movimento de algumas marcas de investir em papéis tissue folha tripla ou folha quádrupla representa um nicho de maior qualidade no setor. Esse momento no mercado representa o avanço da chamada premiumnização, que iniciou com um aumento do consumo do folha dupla ante o folha simples, indicando um consumidor mais exigente em termos de qualidade. 

Diante desse cenário, o CEO da COPAPA reforçou que, atualmente, o folha dupla representa cerca de 80%, o folha simples em torno de 14%, e o folha tripla fica entre 5% e 6%, com uma variação demográfica relevante. “O que observamos é que o mercado, com a pandemia, teve o movimento de retroagir para o produto de 20 metros”, pontuou o executivo, indicando que apesar de uma qualidade maior, por conta do poder de compra, o consumidor ainda equilibra a qualidade com o preço, resultando numa metragem menor. 

Hoje, a COPAPA produz cerca de 10% de folha simples, enquanto a Damapel produz cerca de 5%. 

OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO E DESAFIO  

Com uma capacidade instalada de cerca de um milhão de toneladas, o mercado brasileiro de tissue possui apenas 6kg/per capita de consumo, o que representa um potencial de crescimento grande. No entanto, o poder de consumo no país ainda é uma trava para alavancar esses índices.  

A flutuação do preço da celulose é outro fator que gera instabilidade no setor. Neste ano, apesar das variações, o setor observa um período mais longo em baixa nos preços da commodity, o que pode ajudar nas margens apertadas dos fabricantes não integrados. 

Para Felipe Quintino, que possui uma vasta experiência no setor, os diversos insights do painel – que ainda abordaram aparas e papel reciclado, reforma tributária e perguntas da audiência – reforçam que a resiliência e a adaptabilidade são fatores essenciais para a perenidade dos negócios.  

“Os desafios enfrentados pelos não integrados são muitos, mas acredito que o principal seja a diversificação. A competitividade operacional já é um fator essencial, mas a ampliação de portfólio requer investimentos e a manutenção da qualidade, além da penetração de mercado. No entanto, na minha visão, a indústria de tissue e personal care devem estar cada vez mais próximas no futuro”, concluiu. 

Encerrando o painel, os convidados fizeram um balanço do desempenho do setor em 2025 até o momento e apontaram os possíveis desdobramentos para 2026, especialmente diante do novo cenário de tarifas no comércio com os EUA. 

“Reunir líderes como o Marcelo e o Igor em um momento tão estratégico para o setor foi extremamente enriquecedor. O painel mostrou que, independentemente do modelo de negócio, integrado ou não, o caminho para a competitividade passa por inovação, eficiência e uma leitura muito clara das transformações do mercado. Essa troca de experiências é essencial para fortalecer toda a cadeia do tissue no Brasil e na América Latina”, finalizou Quintino. 

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