Com a demanda crescente vindo do exterior, um dos insumos, a celulose, já se tornou o quarto produto mais exportado no Paraná
As exportações de papel, celulose e painéis de madeira teve alta de 39,1% em valores no País, na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2017. O Paraná tem participação crescente nesse segmento, com a celulose assumindo a quarta colocação da pauta de produtos embarcados para o exterior entre janeiro e março deste ano, fruto, principalmente, da instalação da Klabin, em Ortigueira.
Esse segmento de produtos florestais é responsável por 3,7 milhões de empregos diretos, indiretos e resultantes do efeito renda, segundo a Ibá (Indústria Brasileira da Árvore). Ainda, a compra de madeira de terceiros já representa de 20% a 25% do material usado por empresas no País, com R$ 152 milhões investidos no fomento à produção por parte de quase 20 mil pequenos proprietários, conforme a entidade.
A Ibá não divulga, porém, números regionalizados. Mesmo assim, é possível observar como a produção florestal tem ganhado espaço no Paraná, por meio dos dados econômicos.
De acordo com levantamento do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), somente a celulose representou US$ 180,6 milhões em exportações no primeiro trimestre do ano. O produto era somente o 81º colocado em embarques ao exterior em 2011 e foi o quarto nos três primeiros meses do ano, atrás de apenas da soja em grão, da carne de frango in natura e do farelo de soja, já à frente até dos automóveis.
A marca no ano passado já indicava um salto de 112 vezes em valores nominais nas exportações de celulose pelo Paraná em seis anos, de US$ 4,9 milhões em 2011 para US$ 553,8 milhões em 2017. E, somente nos primeiros três meses de 2018, o faturamento já bateu um terço dos 12 meses anteriores. “O Estado sempre se destacou na produção de papel e de embalagens de papelão, mas essa diferença ocorreu depois do investimento da Klabin em Ortigueira”, diz o presidente do Ipardes, Julio Suzuki Junior.
Ele conta que a unidade direciona boa parte da produção para exportações e tira os insumos, em boa parte, de arrendamentos de terras de produtores rurais. “Ortigueira está em uma região que apresenta dificuldades para produção de grãos pela topografia, então a madeira é uma opção”, diz Suzuki Junior. A reportagem procurou na tarde de ontem a Klabin para questionar sobre o modelo de produção, mas a assessoria de imprensa informou que não houve tempo hábil para resposta.
O presidente do Ipardes completa que a exportação de celulose representa a venda de um produto com valor agregado, que não é usado somente na produção de papel, mas de outros itens industriais, como os de limpeza e de higiene. “A região de Ortigueira deve ter um salto no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), assim como ocorreu com Telêmaco Borba”, afirma Suzuki, para quem a região Sul brasileira tem o clima ideal para o desenvolvimento de eucalipto e pinus.
NÚMEROS NACIONAIS
Segundo o Boletim de Cenários da Ibá de abril, as exportações de celulose nacionais foram de US$ 1,4 bilhão para US$ 2,1 bilhões, na comparação entre o primeiro trimestre de 2017 e de 2018. A alta representa 51,%.
Quando somados papel e painéis de madeira, o valor passa de US$ 1,9 bilhão para US$ 2,6 bilhões no mesmo comparativo, alta de 39,1%.
Ao mesmo tempo, as importações foram de US$ 231 milhões para US$ 266 milhões, ou 15,2% a mais. Assim, aumentou em 49,3% o saldo positivo da balança comercial, para US$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
Conforme a Ibá, o segmento respondeu por 12,5% de todos os valores exportados por empresas brasileiras do agronegócio nesses três meses e por 5,0% dos embarques totais do País.
Demanda mundial cresce puxada pelos chineses
Além da valorização, o avanço da receita das exportações de produtos derivados da árvore passa também pelo crescimento do volume embarcado, na comparação entre o primeiro trimestre de 2017 e 2018. Houve alta de 18,2% no montante de celulose, de 8,5% nos painéis de madeira e, por outro lado, queda de 6,5% na quantidade de papel embarcado, conforme a Ibá (Indústria Brasileira da Árvore). Os chineses, mais uma vez, são os principais responsáveis pelo salto de demanda.
China e Canadá produziam mais celulose do que o Brasil em 2013, mas hoje o País está atrás apenas dos Estados Unidos. “A expectativa é de aumento de exportações, com o cenário internacional abrindo oportunidades para crescimento. A China, por exemplo, por meio de medidas do governo, está privilegiando a importação de celulose branqueada, utilizada em papel de imprimir/escrever, segmento no qual o Brasil é muito eficiente”, informa a Ibá, por meio de nota.
A política de redução da emissão de carbono fez com que o país asiático fechasse parte das fábricas do setor. “A celulose de fibra curta deve ter demanda crescente nos próximos anos em função do aumento de utilização de produtos de papel tissue na China e em detrimento do uso de matérias-primas de origem plástica”, conforme a nota da entidade.
Em outra ponta, há grande expectativa pelo fechamento de acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que daria novo impulso às exportações brasileiras, pela reconhecida qualidade do produto nacional. O bloco econômico é o segundo maior consumidor brasileiro no segmento.
Para os produtores rurais, o plantio de árvores para indústria é uma opção. Conforme a Ibá, contratar pequenas propriedades é estratégia de cada empresa e envolve a qualidade da madeira, a regulação ambiental, a certificação e a distância da fábrica. “Nesse sentido, algumas empresas desenvolvem um trabalho para fomentar a produção florestal por pequenos proprietários, dando apoio técnico para cumprir com requisitos de certificação, melhorar produtividade, entre outros”, informa, por meio de nota.