Eucalipto reina por 300 km, desbanca pecuária e cria novo eixo econômico: “No momento, ganha projeção a produção de papéis tissue. O maior comprador é a Ásia, com destaque para a China.”
Nos mais de 300 quilômetros entre Campo Grande e Três Lagoas, onde a vista alcança, há eucalipto. A 20 quilômetros do perímetro urbano da Capital, na BR-262, “treminhões” carregados e plantações mostram que mais do que uma Capital da Celulose, nova alcunha para Três Lagoas, toda a região Leste de Mato Grosso do Sul embarcou nesta nova vocação econômica.
As florestas plantadas crescem a passos largos. “O plano florestal, feito em 2008, apontava um milhão de hectares em 2030. Mas esse um milhão deve ser alcançado em 2020”, afirmou o diretor-executivo da Reflore MS (Associação Sul-mato-grossense dos Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), Benedito Mário Lázaro.
Atualmente, são 700 mil hectares no novo eixo do eucalipto. Em Três Lagoas, a Eldorado Brasil, líder mundial do setor, já se prepara para uma segunda linha de produção. Os mesmos passos devem ser seguidos pela Fíbria. Nesta semana, o governador André Puccinelli (PMDB) anunciou a instalação de uma indústria de papel e celulose em Ribas do Rio Pardo.
O investimento será de R$ 8 bilhões, com previsão de começar as obras em junho de 2014. O Estado também tem interesse da Arauco, do Chile. Mas a medida depende da mudança na interpretação da Lei para Estrangeiros, que limita a compra de terras.
De acordo com Benedito Mário, a celulose serve para mais de cinco mil itens. No momento, ganha projeção a produção de papéis tissue, como guardanapos, absorventes, papel higiênico. O maior comprador é a Ásia, com destaque para a China.
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Em geral, as áreas para plantio são arrendadas e viram mix de eucalipto e pecuária. Segundo Benedito Mário, as florestas plantadas trazem vantagens ambientais, econômicas e sociais. “Traz empregos de qualidade, toda uma cadeia produtiva”, diz.
No entanto, o setor cobra melhoria na infraestrutura, como estradas vicinais, rodovias, ferrovias. O diretor-executivo afirma que também é necessário avançar em biotecnologia. “Hoje, são 3.6 metros cúbicos para uma tonelada de celulose. Tem que diminuir para 3 metros cúbicos. Melhorar a espécie” salienta.
Do ponto de vista ambiental, são levantados dois fatores contra: que a monocultura não pode ser considerada floresta e a pequena biodiversidade.
Para chinês ver – Inaugurada em dezembro de 2012, a Eldorado Brasil inicia os preparativos para uma segunda linha de produção. Dos atuais 1,5 milhão de tonelada por ano, a empresa pretende chegar a 3,5 milhões anuais em 2017. A maior fatia da produção vai para a China, depois Europa e, por fim, 15% para América Latina, incluindo Estados Unidos e o Brasil.
De acordo com o diretor-geral da Eldorado, Guilherme Araújo, uma audiência pública no dia 13 de novembro, em Três Lagoas, vai discutir os impactos ambientais. Os estudos de EIA/Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) são volumosos: 2.500 páginas.
Depois, vem o processo de licenciamento ambiental. As obras devem começar entre 2014 e 2015, empregando, desta vez, seis mil pessoas. Na primeira etapa, foram 10 mil trabalhadores no pico da fase de construção. A primeira linha teve investimento de R$ 6,2 bilhões. Para a segunda etapa, os custos ainda são avaliados. A empresa tem 2.500 empregados, sendo 700 na fábrica.
O ciclo do ouro branco – Do pátio, capaz de abrigar 160 mil metros cúbicos de madeira, o eucalipto é picado e peneirado. Agora chamado cavaco, os pedaços são selecionados e seguem por uma esteira até o digestor de 72 metros, uma grande panela de pressão. Em seguida, a massa passa pelo branqueamento e, depois, segue para secagem.
No fim do processo, o papel já sai pronto para exportação. São duas rotas para chegar ao Porto de Santos. Metade vai até Aparecida do Taboado e segue de trem. O restante vai pelo rio Paraná até Pederneiras (São Paulo) e vai pelos trilhos até o porto. O parque industrial ainda conta com chaminé de 142 metros, equivalente a um prédio de 47 andares.
De acordo com Guilherme Araújo, a diversificação dos modais favoreceu a escolha de Três Lagoas para receber o empreendimento. O fator climático também teve seu peso. “O eucalipto precisa de 600 milímetros de água por ano. Aqui, chovem 800, mil milímetros por ano. Não consome mais água do que chove. A terra é o nosso maior bem”, afirma o diretor-geral.
Segundo ele, as licenças também dimensionaram o impacto no rio Paraná. “O rio tem vazão de 6 mil metros cúbico de água por segundo. Usamos 3 metros cúbicos por segundo e devolvemos 2,7 metros cúbicos”, afirma.
Fonte: campograndenews.com.br