
TRÊS
A cidade viu o Produto Interno Bruto (PIB) per capita saltar 54% entre 2010 e 2013. No país, no mesmo período, o avanço foi de 29,8% em termos brutos. Nos últimos anos, o anúncio de investimentos bilionários na indústria de celulose fez Três Lagoas crescer em ritmo ainda mais acelerado. O número de pessoas ocupadas passou de 19,7 mil, em 2007, para 36,5 mil, no ano passado, entre os 115 mil habitantes.
A crise, porém, não poupou integralmente a cidade. A Petrobras cancelou uma fábrica de fertilizantes que já tinha 81% dos trabalhos prontos, deixando esqueletos no local. A obra, agora, está à espera de um comprador para ser retomada. A recessão levou ao fechamento da única sala de cinema do município e atingiu a construção do que viria a ser o primeiro shopping da cidade, cujas obras foram interrompidas.
Mesmo assim, as empresas que deram à cidade o título de capital mundial da celulose continuam com investimentos bilionários em expansão de suas instalações, o que dá algum alento aos empresários da cidade. A Fibria mantém aportes de R$ 7,7 bilhões para ampliar a capacidade de 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano para 3,2 milhões. A Eldorado investe R$ 10 bilhões para ampliar a capacidade de 1,7 milhão para 2,5 milhões.
– Há injeção financeira na economia local – disse Marcelo Castelli, presidente da Fibria.
Ele lembra que, na primeira fase de construção da fábrica, trabalhadores ficaram hospedados em alojamentos, que depois foram emprestados à Eldorado. Mas, desta vez, quem vem para a obra já se hospeda nos leitos disponíveis na rede hoteleira da cidade.
Já a Eldorado tinha 2.500 funcionários na inauguração da fábrica, em 2012. Hoje, tem mais de 5.000, que devem se tornar 7.000 quando a expansão ficar pronta. A Fibria prevê que até o fim de 2017 terá criado 3.000 novos postos de trabalho.
Junto com a expansão, porém, vieram algumas agruras do desenvolvimento. Hoje, uma discussão frequente na cidade – e que tomou a campanha eleitoral municipal – é a criação de uma cobrança especial para estacionar no centro. Essa espécie de Rio Rotativo foi criada para aliviar o trânsito da cidade, que já perturba a tranquilidade das capivaras que se espalham às margens das três lagoas que dão nome ao município. A frota de veículos subiu de 55 mil, em 2011, para 76 mil, no ano passado. Moradores se queixam de que o anúncio de empregos trouxe para a região um contingente de desempregados de outras regiões.
– Falaram em 40 mil empregos, mas essa notícia foi supervalorizada, e isso fez com que muita gente viesse para Três Lagoas. Hoje, há gente domingo na rua e que não conseguiu emprego – disse o presidente do sindicato varejista e dono da ótica Estrela D’Alva, Sueide Silva Torres.
Wilson Turíbio, da WR Construtora Eletricidade e Iluminação, conta que teve de reclamar publicamente para receber por serviços prestados para a unidade de fertilizantes e teve de reconheceu uma parte como perda:
– No cenário nacional e estadual, nosso município é privilegiado. Passamos por um momento ruim, mas ainda estamos melhor do que muitos outros.
Segundo o executivo, diante da crise nacional, as empresas estrangeiras e mais capitalizadas presentes em Três Lagoas levam vantagens nas negociações. A Fibria, por exemplo, conseguiu reduzir em R$ 200 milhões o custo da obra de expansão da fábrica:
– Tem empresa participando de obras com preço até 10% mais barato do que dez anos atrás, porque não há outras na região.
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