Economia de países emergentes impulsiona a produção de papel no Brasil
Mudanças de hábitos em economias do Leste Europeu, Ásia e América Latina estão beneficiando a indústria nacional.
A crescente demanda por papel em países em desenvolvimento, especialmente na China, impulsiona a produção de celulose no Brasil e favorece a consolidação do mercado.
“Nos últimos dez anos, a demanda por celulose aumentou. Há uma entrada dos emergentes do Leste Europeu, Ásia e América Latina, que vêm aumentando o consumo rapidamente”, afirma a presidente-executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Elizabeth de Carvalhaes. Nesse período, a China superou a Europa como principal destino das exportações da celulose brasileira.
“O país asiático trouxe 800 milhões de pessoas para os centros urbanos. Esse movimento impactou o consumo. Há uma demanda por papéis de embalagem e produtos de higiene crescendo anualmente”, diz Elizabeth.
O vice-presidente da Pöyry, Carlos Farinha, afirma que, embora a Índia tenha um maior crescimento projetado, ainda não passa por transformações de consumo tão rápidas quanto a China.
“A classe média [da Índia] tem evoluído, é um fenômeno para se acompanhar com atenção. Mas não está no mesmo patamar da China.”
O economista e vice-presidente de celulose de Risi, David Fortin, aponta a demanda chinesa como um dos possíveis fatores para a fusão entre Suzano e Fibria. “Faz sentido que a parceria entre as duas companhias seja uma forma de se posicionar melhor como um fornecedor chave para o mercado de papel chinês”.
Em março, as duas maiores produtoras de celulose do País, Fibria e Suzano, anunciaram um acordo de fusão. Quando concretizado, o negócio resultará na maior produtora de celulose do mundo, somando capacidade para produzir 11 milhões de toneladas de celulose por ano. “A união de gigantes coloca o Brasil numa posição ainda mais arrojada. O País se descolou dos concorrentes na produção de celulose”, declara Elizabeth. “Até o ano passado, o Brasil era o 4º maior produtor do mundo de qualquer espécie arbórea. No final de 2017, ultrapassamos a China e o Canadá.”
O Brasil é o maior produtor global de celulose de fibra curta, originária do eucalipto, e segundo maior no geral, atrás apenas dos Estados Unidos.
Mercado consolidado
Para especialistas ouvidos pelo DCI, a fusão confirma uma tendência de consolidação do mercado e é uma resposta à compra da Eldorado pela asiática Paper Excellence, concretizada no ano passado. “Uma das razões prováveis para o negócio é aumentar o share de mercado e se afirmar como um dos principais players em meio a essa tendência de consolidação”, acredita Fortin.
Ele afirma que, embora exista preocupação por parte dos produtores de tissue (para papéis de uso higiênico) de que a contínua consolidação do mercado pode elevar o controle de preços, o share total das empresas ainda não é suficiente para causar esse impacto.
“Embora o acordo entre Suzano e Fibria crie uma gigante global, não deve ocasionar um grande impacto no mercado. A celulose é uma commodity e geralmente são necessários 70% de share para as três ou quatro maiores companhias exercerem qualquer poder de sobrepreço. A capacidade combinada de Fibria, Suzano e CPMP permanece abaixo dessa faixa, tanto no mercado total quanto de fibra curta”.
A companhia resultante da fusão terá 14% de share do mercado mundial de celulose e 28% da capacidade do mercado de fibra curta, segmento em que a segunda colocada é a chilena CMPC, com 9%.
Carlos Farinha acredita que a consolidação deixará o mercado mais disciplinado. “A ausência de competição entre essas empresas vai evitar oscilações bruscas de preços.”
Os especialistas não descartam avanços da China para tentar adquirir empresas brasileiras. “Como [estrangeiros] não podem comprar terras brasileiras, a opção é comprar empresas”, explica Elizabeth. “A tendência é as grandes fábricas virem para a América do Sul. É natural que as empresas queiram controlar a fonte de seus suprimentos e não fiquem sujeitos à oscilação do mercado”, diz Farinha.
DCI.