Crise energética: Essity eleva preços e pode reduzir produção na Alemanha
Alguns fabricantes já reduziram a produção de tissue no país e economistas temem o impacto no setor
O medo do desabastecimento que levou ao boom de compras de papel higiênico no início da pandemia em todo o mundo voltou a preocupar os consumidores, mas desta vez, por motivos mais sólidos. Os altos custos de energia elétrica e gás natural, provocados pela crise energética na Europa – principalmente na Alemanha – têm elevado os preços dos produtos à base de celulose a níveis históricos.
Diante disso, as companhias têm buscado alternativas para sobreviver, já que não têm conseguido repassar os custos para o varejo – como foi o caso da alemã Hakle, que chegou a se declarar insolvente.
No caso da sueca Essity, a empresa optou por aumentar os preços e mudar para outras fontes de combustível. Na unidade alemã de Mainz-Kostheim, a fabricação de um único “rolo matriz” de papel higiênico de dois metros de largura demanda 700 kilowatts-hora de gás natural – o suficiente para aquecer uma residência por várias semanas durante o inverno.
Por essa razão, alguns fabricantes de tissue já reduziram sua produção e economistas temem o impacto dessa queda sobre o setor. “Pelo que ouvimos, essa crise deverá ser mais grave para o setor industrial do que a Covid-19 foi”, diz Carsten Rolle, diretor de políticas energéticas e climáticas da associação empresarial BDI.
De acordo com a Câmara de Comércio e Indústria da Alemanha (DIHK, na sigla em inglês), uma pesquisa conduzida em julho apontou que que 16% das 3.500 empresas consultadas estão reduzindo a produção ou interrompendo as operações.
Outro fator importante nesse cenário, a guerra entre Ucrânia e Rússia culminou no fechamento do gasoduto Nord Stream 1 – uma das principais fontes de gás na Europa, que corre sob o mar Báltico até o país governado por Vladmir Putin. Desde fevereiro, quando teve início a invasão russa, os preços dispararam, levando a inflação a um patamar recorde na zona do euro. Com a aproximação do inverno, o temor de racionamento aumenta.
“A salvação da indústria é a energia e se os custos da energia não forem sustentáveis, as empresas e as pessoas não poderão mais pagar por ela. No nível atual dos preços, isso significará uma desindustrialização automática para a Alemanha”, afirma o presidente-executivo de uma indústria fornecedora do segmento. Ele acrescenta ainda que a principal fábrica de sua companhia não é mais economicamente viável.
RECESSÃO ECONÔMICA
O atual cenário aponta para uma possível recessão na Alemanha. Além disso, economistas reduziram as expectativas para a economia na Europa, com previsão de recuo de 3,5% no próximo ano.
Para mitigar a crise energética, no início do mês, o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz anunciou um pacote de ajuda de 65 bilhões de euros, bancado por um imposto excepcional sobre os produtores de eletricidade para ajudar a amenizar esses efeitos. A iniciativa inclui pagamentos únicos para ajudar as famílias em suas contas de energia, assim como uma extensão do pacote de ajuda de 5 bilhões de euros para as empresas que consomem muita energia, introduzido em julho. Em agosto, Scholz também anunciou um corte do imposto sobre valor agregado sobre as vendas de gás, de 19% para 7%.
No entanto, os preços subiram a ponto de a Essity acreditar não ter alternativa a não ser aumentar em até 18% os preços de seus produtos, como o papel higiênico Lotus, as fraldas Libero e os absorventes Bodyform.
Magnus Groth, diretor-presidente da companhia, afirma que a companhia já garantiu preços mais baixos para 70% do gás natural e da eletricidade que ela consome. A Essity também está repensando sua dependência do gás natural e já recebeu licenças para adaptar suas fábricas a fontes alternativas de energia.
Na planta de Mainz-Kostheim, a celulose é espremida e enrolada antes de ser colocada em um secador Yankee – que consome gás natural – e então esticada. No início do próximo ano, este cilindro poderá funcionar com gás natural liquefeito, que pode ser importado dos Estados Unidos e do Qatar. A empresa também já instalou uma nova estação de descarga e novas tubulações para acomodar o GNL, para alimentar as máquinas de produção de papel e a usina de energia da fábrica.
Ainda que a indústria migre para fontes de energia alternativas, o temor do racionamento pode forçar as empresas a interromperem linhas de produção consideradas menos essenciais. “Pode não ser necessário produzir embalagens para biscoitos de chocolate, mas é preciso produzir papel higiênico”, declarou Georg Geiger, porta-voz da Die Papierindustrie.