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Para Guilherme Cavalcanti, diretor financeiro da Fibria, a celulose tem foco no consumo e, diferentemente do minério de ferro, menor dependência da economia chinesa. “A celulose é uma commodity de consumo, com papel para embalagens e o tissue (fins sanitários). Ela tem destino diferente e dependência menor do investimento de capital fixo”, disse.
De acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a China ficou em segundo lugar entre os maiores compradores do insumo brasileiro, com um total de US$ 1,414 bilhão exportado de janeiro a outubro, o que representa 32% do total das vendas externas, de US$ 4,453 bilhões. A Europa é o maior destino da produção, com US$ 1,765 bilhão, cerca de 40% do total. A América do Norte foi responsável por 18,4%.
O vice-presidente da Pöyry no Brasil, Carlos Farinha e Silva, concorda com a força do consumo e menciona, inclusive, que a demanda na China por alguns produtos tem crescido, como o tissue. O próprio recuo dos preços do petróleo é positivo para o segmento de papel e celulose, segundo ele. “Diminui os custos de energia dos produtores de papel e dá certa folga para que os produtores de celulose repassem o preço e rentabilizem as vendas”, explicou.
Em outubro, Fibria e Suzano anunciaram novos valores de referência da celulose. Na Europa, ficou em US$ 750,00 a tonelada, nos Estados Unidos em US$ 840,00 e na Ásia em US$ 640,00 a tonelada. Segundo Cavalcanti, da Fibria, os aumentos em outubro já foram implementados e a companhia segue confiante. “Nos 10 primeiros meses de 2014, a demanda por celulose cresceu 10,5% ante o ano anterior.”
A Fibria anunciou nova alta de US$ 20,00 por tonelada em cada mercado, a ser implementada a partir do dia 1 de janeiro. A Suzano, por sua vez, apenas assumiu que novos ajustes estão em estudo.
Nova unidade da CMPC Celulose pode ajudar setor, avalia analista
O que favoreceu os aumentos já anunciados nos valores internacionais da celulose, segundo os executivos das empresas Fibria e Suzano, foi o fechamento de capacidades mundiais da fábrica da Old Town, nos Estados Unidos, e da Ence, na Espanha, que somaram, aproximadamente 600 mil toneladas. “Historicamente, têm fechado umas 600 mil toneladas por ano, mas é difícil projetar, porque novos projetos são sempre anunciados, já fechamentos são postergados o máximo possível”, disse o vice-presidente da Pöyry no Brasil, Carlos Farinha e Silva.
O analista do setor de papel e celulose do BB Investimentos, Victor Penna, concorda que os fechamentos de capacidade ajudaram a equilibrar os preços em 2014. “As empresas aproveitaram a oportunidade para anunciar os ajustes, com estoques baixos e embarques estáveis. No segundo semestre, no entanto, entraram novas capacidades, e as empresas puderam aplicar mais descontos do que aumentos”, avaliou.
A nova capacidade mencionada pelo analista virá da unidade de Guaíba, da CMPC Celulose Riograndense, no Rio Grande do Sul. Executivos da Fibria e da Suzano também já sinalizaram que o segundo semestre será mais difícil. Guaíba deve iniciar a operação em maio ou junho, disse o diretor executivo da unidade de Negócios de Papel e Celulose da Suzano, Carlos Aníbal, em reunião com analistas e investidores (Apimec), realizada no final de novembro, ponderando que leva até três meses para a celulose chegar ao mercado. “Então, o impacto deve ficar para o final de 2015.”
O diretor-presidente da CMPC Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, confirmou que Guaíba entra em operação no mês de maio. Atualmente, a capacidade anual de celulose da CMPC Celulose Riograndense é de 450 mil toneladas e o novo projeto será responsável por um adicional de 1,3 milhão de toneladas ao ano. Ao considerar 50 mil toneladas de otimização imediata e 200 mil toneladas de outras otimizações, a capacidade do grupo passará para 2,1 milhões de toneladas por ano.
Segundo Nunes, a capacidade nominal da unidade deve ser atingida no final de 2015 e meados de 2016 e o cronograma está de acordo. “No mês de março, faremos uma parada geral para integração da unidade 1 com a 2”, disse o executivo, que lembrou ainda os investimentos que totalizam R$ 5 bilhões na nova fábrica de celulose.
Para Nunes, o impacto no preço da celulose não será expressivo. “Não achamos que haja algo mais dramático, porque não somos um novo entrante e o volume será aumentado com os nossos clientes.”
jcrs.uol.com.br